POLICROMIA !
nas raias do silogismo,
na essência da premissa,
todo poeta é mortal.
na falsidade da recíproca
nem todos os homens sonham!
esta vida é um carnaval,
abram alas pra folia,
para gáudio da alegoria,
estamos no mesmo barco,
num pseudo mar-de-rosas,
remando contra a maré!
tem gente
tropeçando de alegria,
nos pedaços prateados de luar,
e as asas da imaginação,
arranhando-se nas arestas
da ilusória liberdade!
borboletas voam razante
por sôbre as flores das galáxias,
o gatinho sem pedigree, devorou
o peixinho banhado a ouro,
que nadava infeliz no espaço
escasso do límpido aquário!
tudo preparado, lá em cima
no infiníto, estrelas
estão piscando sensuais
para os vavaleiros da guarda de honra
da corte do astro-rei!
dez...nobe...oito...sete...,
iniciou-se a contagem regressiva
para mais um lançamento,
na plataforma das necessárias
ilusões, e cada vez mais
se aproxima, a hora exata, fatal!
seis...cinco...quatro...,
só o que resta é a esperança
de ainda poder esperar!
três...dois...um (FÍRE)
(o eterno condicionamento)
e parte a nave prateourada
deixando atrás de sí,
um rastro vermelhicrômico,
que um poeta desavisado
chamaria de; saudade!!!
a TV vai convocando
todospara a passeata,
a mentira disvirtua,
comprovou o astronauta,
que a lua não é queijo,
e nem luar é de prata!
e o cacique prometendo,
felicidade global,
desfraldando a bandeira,
da esperança tropical,
e o sabiá já não canta,
na acrílica palmeira
desta mata aristocrata!
Antonio Carlos de Paula
poeta e compositor
ANÁLISE ANALÍTICA
O poema "Policromia!" oferece uma rica tapeçaria de imagens e ideias, abordando temas como a transitoriedade da vida, a natureza ilusória das esperanças humanas e a complexa relação entre realidade e fantasia. Com uma linguagem vibrante e metafórica, o poeta tece uma crítica ao mundo contemporâneo, ao mesmo tempo que celebra a imaginação e a criatividade como formas de resistência.
O poema começa com uma reflexão filosófica que utiliza a lógica formal do silogismo para fazer uma afirmação sobre a condição dos poetas e dos homens: "nas raias do silogismo, / na essência da premissa, / todo poeta é mortal. / na falsidade da recíproca / nem todos os homens sonham!". Aqui, o poeta estabelece uma distinção entre a universalidade da mortalidade e a particularidade dos sonhos, sugerindo que, enquanto todos estão sujeitos à morte, nem todos se permitem sonhar. Esta dualidade inicial prepara o terreno para o restante do poema, que explora as ilusões e realidades da vida.
A seguir, o poema adota uma tonalidade carnavalesca: "esta vida é um carnaval, / abram alas pra folia, / para gáudio da alegoria, / estamos no mesmo barco, / num pseudo mar-de-rosas, / remando contra a maré!". A metáfora do carnaval, com sua alegria e caos, simboliza a efemeridade e a superficialidade da vida moderna. O "pseudo mar-de-rosas" indica a ilusão de uma vida fácil e prazerosa, enquanto a imagem de "remando contra a maré" sugere a luta constante contra as adversidades.
No terceiro estrofe, a alegria ilusória é personificada: "tem gente / tropeçando de alegria, / nos pedaços prateados de luar, / e as asas da imaginação, / arranhando-se nas arestas / da ilusória liberdade!". A alegria é vista como algo frágil e enganoso, que pode levar a tropeços, enquanto a imaginação, apesar de suas aspirações elevadas, frequentemente encontra limites e obstáculos na realidade.
A seguir, o poema transita para o cósmico e o cotidiano: "borboletas voam razante / por sôbre as flores das galáxias, / o gatinho sem pedigree, devorou / o peixinho banhado a ouro, / que nadava infeliz no espaço / escasso do límpido aquário!". Aqui, as imagens de borboletas e galáxias misturam o pequeno e o vasto, o natural e o surreal, enquanto a cena do gato e do peixe simboliza a predatória realidade oculta sob a aparência brilhante das coisas.
A contagem regressiva em "dez...nove...oito...sete..." cria uma sensação de antecipação e inevitabilidade. Esta passagem, que culmina com o lançamento de uma nave, pode ser interpretada como uma metáfora para a busca humana por sentido e transcendência. A contagem regressiva e o lançamento refletem tanto a esperança quanto a desilusão, sugerindo que, apesar de nossos esforços, muitas vezes somos deixados com nada mais do que a "saudade".
A ironia se intensifica no final, com a crítica ao engano midiático e político: "a TV vai convocando / todos para a passeata, / a mentira desvirtua, / comprovou o astronauta, / que a lua não é queijo, / e nem luar é de prata!". Esta estrofe denuncia a manipulação das massas e a perda de inocência e encantamento.
Finalmente, a visão distópica é consolidada com a promessa vazia de um líder: "e o cacique prometendo, / felicidade global, / desfraldando a bandeira, / da esperança tropical, / e o sabiá já não canta, / na acrílica palmeira / desta mata aristocrata!".
Aqui, a natureza artificializada ("acrílica palmeira") e a ausência do canto do sabiá refletem uma perda de autenticidade e conexão com o natural, sugerindo um mundo onde as promessas de felicidade são falsas e a verdadeira beleza está perdida. Em suma, "Policromia!" é um poema que, através de suas imagens ricas e variadas, oferece uma crítica profunda e multifacetada da sociedade contemporânea. Ele celebra a imaginação e a criatividade como forças de resistência, ao mesmo tempo que denuncia a superficialidade, a ilusão e a manipulação que permeiam a vida moderna.