Mansão dos Moretti, a luz suave do pôr do sol entra pelas grandes janelas, criando sombras alongadas no ambiente. Silvio está sentado em sua poltrona de couro, folheando um antigo álbum de fotografias, quando Ana entra na sala, hesitante.
Ana: (Com um tom sério) - Pai, precisamos conversar.
Silvio Moretti: (Sem levantar os olhos do álbum) - Sobre o que, exatamente?
Ana: (Aproxima-se devagar, parando ao lado da mesa) -Sobre as coisas que não me contou. Sobre o que está escondendo de mim.
Silvio Moretti: (Fecha o álbum calmamente e finalmente a encara) Há coisas, Ana, que são melhor deixadas no passado. Por que desenterrar o que deve permanecer enterrado?
Ana: (Determinada) - Porque o passado não fica enterrado, pai. Ele sempre encontra uma maneira de voltar à superfície, e eu preciso saber o que realmente aconteceu.
Silvio Moretti: (Suspira profundamente, levantando-se e indo até a janela) - Algumas verdades... machucam mais do que você imagina. Você não está preparada para conhecer esse lado da história.
Ana: (Aproxima-se dele, com a voz trêmula) -Talvez não esteja preparada, mas mereço saber.
Silvio Moretti: (Virando-se bruscamente para encará-la) - A verdade que você procura, Ana, pode destruir tudo o que construímos. Uma vez descoberta, não haverá volta.
Ana: (Olhos arregalados) - Então, é verdade. Há algo sobre nós, sobre nossa família, que eu não sei... algo sombrio.
Silvio Moretti: (Abaixa a cabeça por um momento, antes de olhá-la diretamente nos olhos) - Há segredos que protegem, Ana. Se você insiste em descobrir, esteja ciente de que nada mais será como antes.
Ana: (A voz quase um sussurro) - Eu já sinto isso, pai. O que for que você esteja escondendo... não vai me impedir de encontrar a verdade.
Silvio Moretti: (Com um tom melancólico) -Então se prepare, porque a verdade, minha filha, é um labirinto ainda mais traiçoeiro do que qualquer um que você já conheceu.
Silvio Moretti: (Sem se virar) - Você sempre soube que esse jogo é perigoso, Ana. Cada movimento precisa ser calculado. Um erro e tudo o que construímos desmorona.
Ana Moretti: (Parando ao lado dele, com o olhar sério) - E se já estivermos dentro do labirinto, pai? E se a única maneira de sair for seguir os passos que abandonamos?
Silvio Moretti: (Virando-se lentamente para encará-la) - Labirintos são feitos para confundir, para esconder a verdade. Mas sempre há um caminho... para quem tem coragem de encontrá-lo.
Ana Moretti: - Talvez a resposta não esteja em seguir, mas em desenrolar o fio certo. Como Ariadne fez na mitologia.
Silvio Moretti: (Com um sorriso enigmático) - O fio, Ana, é de quem sabe o que está buscando. Você está pronta para ser essa pessoa?
Ana Moretti: (Olha-o com determinação) - Estou pronta para descobrir se há mesmo uma saída, e o que terei que sacrificar para encontrá-la.
Silvio Moretti: (Aproxima-se dela, tocando-lhe o rosto) -Lembre-se, minha filha, que neste labirinto, nem tudo é o que parece. O verdadeiro inimigo pode estar mais perto do que você imagina.
Ana Moretti: (Ana recua, percebendo a profundidade da advertência). - Talvez seja a hora de começarmos a olhar debaixo da superfície. E encontrar o fio que nos conduzirá à verdade.
Em silencio Moretti observa a filha Ana sair da sala, um brilho de preocupação misturado com orgulho em seus olhos, revelam a complexidade do esquema criminoso e a importância de Ana no desenrolar dos eventos. Ele sempre soube que a vida que escolhera não era para os fracos. O caminho que o levou a se tornar o homem mais temido da cidade foi pavimentado com decisões sombrias, traições e sangue. Mas, ao contrário do que muitos imaginavam, sua jornada para o submundo do crime não começou com ambição ou ganância. Começou com desespero. Hoje, um bem-sucedido empresário poderoso e corrupto, envolvido em um vasto esquema de lavagem de dinheiro e corrupção, Silvio usa sua influência para manter suas atividades ilícitas fora do radar das autoridades. Ele é um manipulador nato e não hesita em eliminar qualquer ameaça. A conversa com Ana trouxe à tona fantasmas do passado, Silvio Moretti divaga...era uma noite quente em Nápoles. As ruas estreitas estavam repletas de vida, com vozes ecoando entre as paredes de pedra desgastadas. Mas dentro de um pequeno apartamento, a escuridão reinava. Silvio, então com apenas dezessete anos, estava ajoelhado ao lado da cama de sua mãe. Ela estava doente há meses, e cada dia que passava, seu estado de saúde se agravava. Ele segurava sua mão frágil, sentindo a pele fria e pálida. O pai de Silvio tinha partido anos antes, deixando-os à mercê da sorte. As despesas médicas eram cada vez maiores e o dinheiro era insuficiente para fazer frente aos gastos. A matriarca dos Moretti não viveria muito tempo mais depois daquela noite. Premido pela necessidade, Silvio não comunicou de imediato a morte da mãe as autoridades, continuou por alguns meses a receber seus benefícios. Com o dinheiro que juntou neste período comprou uma passagem para o Brasil, e aqui chegou com apenas alguns poucos trocados no bolso. Vivendo de favor na casa de um primo de sua mãe, um agiota implacável com seus devedores, Silvio que era um jovem forte e musculoso, começou a prestar alguns serviços como cobrador e segurança do primo Carmello. Em pouco tempo ele se adaptou ao trabalho insólito e nas muitas das vezes, cruel. Era mais impiedoso para com os devedores do que o primo Carmello, que sofreu um trágico acidente em condições estranhas e até hoje não esclarecido. Silvio Moretti agiu nas sombras para manter em segredo a existência de uma filha, que era a única herdeira de Carmello, e literalmente apropriou-se dos bens e do esquema lucrativo do primo, aos poucos aprimorou o sistema, diversificou as atividades, investiu em imóveis, criou redes de comercio como postos de gasolina, farmácias, restaurantes e padarias, verdadeiros shoppings de serviços óticos, e outras, que camuflavam a lavagem financeira. Tornou-se um magnata, um cidadão de figura marcante e acima de (quase) nenhuma suspeita, como muitos. Mas Moretti tinha sempre em mente a frase que era um verdadeiro mantra. O passado nunca morre... Ele apenas espera o momento certo para nos consumir.
aconsehável ler os capitulos anteriores