É preciso querer! Seja lá o que for, é preciso! Até mesmo para não querer coisa alguma, afinal, isso também já é um querer! No labirinto deste aparente contrassenso o Minotauro da razão perambula pelos becos sem saídas. Mas, se existe qualquer conflito, há de haver solução. O ponto X, o ponto G, o dia D, a hora H, o X da questão, são mistérios que hão de ser revelados no desenrolar da trama do cotidiano. O roteirista divino é sem dúvida merecedor do mais alto reconhecimento, sem nos esquecermos que segundo a lenda, ele escreve certo por linhas tortas. Mas não nos esqueçamos que também sobre isso, existem controvérsias. As palavras têm poder, mas há quem pense que elas são apenas palavras e nada mais. Mas o poder é uma lâmina de dois gumes.
No centro de uma pequena vila, onde as ruas se entrelaçavam como os fios de um bordado antigo, vivia um homem chamado Augusto. Ele era conhecido por sua sabedoria silenciosa e por seus olhos que pareciam conter segredos antigos. Os habitantes da vila frequentemente procuravam seu conselho, mas Augusto raramente oferecia respostas diretas; ele preferia contar histórias que deixavam quem ouvia com a tarefa de encontrar o próprio caminho.
Certa manhã, um jovem chamado Lucas apareceu na casa de Augusto. Lucas era um rapaz inquieto, atormentado por dúvidas sobre seu futuro. Sentia-se preso em um labirinto de incertezas e angústias, sem saber qual direção tomar. Augusto, como de costume, ofereceu-lhe uma xícara de chá e convidou-o a sentar-se sob a sombra de uma grande figueira no quintal.
"Augusto," começou Lucas, "sinto-me perdido. Não sei o que quero da vida, e essa indecisão está me consumindo. É preciso querer algo, mas não sei o que quero."
Augusto sorriu suavemente e olhou para além das colinas, onde o sol começava a subir no horizonte. "Ah, Lucas, você já ouviu a história do Minotauro da razão?"
Lucas balançou a cabeça negativamente, e Augusto começou a narrar:
"Havia uma vez um vasto labirinto construído pelo mais hábil dos artesãos. No centro deste labirinto vivia um Minotauro, uma criatura metade homem, metade touro, que simbolizava a razão. Muitos tentavam atravessar o labirinto em busca de respostas, mas poucos conseguiam sair. Dizem que o Minotauro vagava pelos becos sem saída, como se estivesse preso em suas próprias dúvidas e contradições.
Certo dia, um jovem chamado Teseu decidiu enfrentar o Minotauro. Ele não procurava respostas, mas queria compreender a própria busca. Armado apenas com um fio de Ariadne, ele entrou no labirinto. Enquanto caminhava, Teseu percebeu que o labirinto não era apenas um desafio físico, mas também um teste de sua vontade. Cada passo exigia uma decisão, e cada decisão revelava um pouco mais sobre ele mesmo.
Quando finalmente encontrou o Minotauro, Teseu compreendeu que a criatura não era um monstro a ser derrotado, mas uma parte de si mesmo a ser compreendida.
Ao invés de lutar, Teseu sentou-se e começou a conversar com o Minotauro. Descobriu que, assim como ele, o Minotauro estava perdido em suas próprias perguntas, preso pela necessidade de encontrar um propósito claro.