Como poeta e letrista de música popular, eu, AC de Paula obviamente já escrevi muitas canções ridículas, Fernando Pessoa, em seu poema Autopsicografia”, nos presenteia com “Toda carta de amor é ridícula”, e como uma canção de amor não deixa de ser uma declaração, um poema musicado, por extensão, concluímos que sim, “toda canção de amor é ridícula!”
O poema de Fernando Pessoa muitas vezes interpretado de forma literal, na verdade, esconde camadas mais profundas de significado. Pessoa, com seu olhar crítico e irônico, pode parecer desdenhar das cartas de amor, rotulando-as como ridículas. No entanto, essa “ridícula” não é uma depreciação, mas um reconhecimento da universalidade do amor.
O amor é tão comum e essencial à experiência humana que se torna um clichê, e é nessa banalidade que reside sua beleza. O poeta, ao criar, desnuda sua alma, e é nesse ato de coragem que a canção de amor se eleva acima do ridículo. Pessoa, através de seus heterônimos, demonstra que a sinceridade do sentimento é o que confere autenticidade à obra.
Assim, embora as cartas e as canções de amor possam parecer ridículas para alguns, elas são um espelho da verdade interior do artista. Parodiar Pessoa, longe de mim qualquer eventual comparação com o mestre, é brincar com a seriedade do amor, afinal, brincadeira é coisa séria. É entender que, por trás de cada verso que parece zombar do sentimento, há uma admiração oculta pela capacidade humana de sentir profundamente.
A paródia não diminui a carta de amor em relação à canção de amor; pelo contrário, ela a exalta, mostrando que mesmo o ridículo tem seu lugar na poesia.Cada canção de amor, por mais que possa ser vista como ridícula, carrega em si uma universalidade que toca a todos. Pessoa sabia disso e, em sua multiplicidade de vozes, cantou o amor de todas as formas. A ridicularização é, portanto, uma celebração da onipresença do amor na vida humana.
Assim, ao comparar a visão de Pessoa com a natureza das canções de amor, percebemos que o ridículo é apenas uma máscara. Por trás dela, há uma profundidade de emoção e uma verdade que ressoa com cada ouvinte. Toda canção de amor é ridícula, sim, mas é nessa ridicularidade que encontramos a essência do que significa ser humano.
Em suma, a canção de amor, por mais que seja alvo de escárnio, é um tributo à nossa capacidade de amar. Pessoa, com sua maestria, nos convida a olhar além do óbvio e encontrar o sublime no aparentemente simples e ridículo. E já é fato consumado que o difícil é fazer o simples. #poetaacdepaula