Palavras saltam
sem paraquedas
e bailam leves,
livres e soltas
pelo espaço
do pensamento,
feito estrelas
ou pirilampos
que brilham sem
motivo ou razão.
E o alazão
das quimeras
cavalga etéreas
campinas
entre cometas
e nuvens
camufladas
nas esquinas,
disfarçadas
de cordeiro
enquanto
seu lobo não vem.
E neste
balé celeste,
ah! o amor que
não me destes,
não faz falta
pode crer,
pois nada
é o que parece,
ou o que
possa
parecer.
E nunca
é tarde
demais
pra dizer
o que não se disse,
pensar demais
é tolice,
e nesse disse
me disse
nem sei mais
o que dizer.
análise crítica
O poema "Tolice" é uma obra que explora a complexidade e a fluidez do pensamento humano, usando uma linguagem rica em imagens poéticas e metáforas. Através de uma reflexão sobre as palavras, o amor, e a percepção da realidade, o poema convida o leitor a mergulhar nas profundezas do subconsciente e a questionar a natureza das coisas.
Estrutura e Linguagem
O poema é composto de versos curtos e irregulares, que contribuem para a sensação de espontaneidade e movimento. A ausência de rima regular e a escolha de palavras evocativas criam uma sensação de liberdade e leveza. A linguagem é cuidadosamente escolhida para transmitir a efemeridade e a inconstância dos pensamentos e sentimentos.
Análise das Estrofes
Primeira Estrofe:
"Palavras saltam / sem paraquedas / e bailam leves, / livres e soltas / pelo espaço / do pensamento, / feito estrelas / ou pirilampos / que brilham sem / motivo ou razão."
A primeira estrofe descreve as palavras como entidades autônomas e livres, que saltam "sem paraquedas" e bailam pelo espaço do pensamento. A comparação com estrelas e pirilampos sugere uma beleza efêmera e sem propósito, realçando a ideia de que muitas vezes os pensamentos e palavras surgem de maneira espontânea e sem lógica aparente.
Segunda Estrofe:
"E o alazão / das quimeras / cavalga etéreas / campinas / entre cometas / e nuvens / camufladas / nas esquinas, / disfarçadas / de cordeiro / enquanto / seu lobo não vem."
Nesta estrofe, o poema utiliza a imagem do "alazão das quimeras" para representar os sonhos e fantasias que cavalgam por paisagens etéreas e imaginárias. A referência a cometas e nuvens camufladas cria uma sensação de mistério e incerteza, enquanto a metáfora do lobo disfarçado de cordeiro sugere a presença de perigos ocultos e decepções mascaradas.
Terceira Estrofe:
"E neste / balé celeste, / ah! o amor que / não me destes, / não faz falta / pode crer, / pois nada / é o que parece, / ou o que / possa / parecer."
A terceira estrofe traz uma reflexão sobre o amor não correspondido e a ilusão das aparências. O "balé celeste" simboliza a dança das estrelas e dos sentimentos no cosmos, enquanto a declaração de que "o amor que não me destes, não faz falta" revela uma aceitação resignada da ausência do amor. A afirmação de que "nada é o que parece" destaca a natureza ilusória das percepções humanas.
Quarta Estrofe:
"E nunca / é tarde / demais / pra dizer / o que não se disse, / pensar demais / é tolice, / e nesse disse / me disse / nem sei mais / o que dizer."
A estrofe final aborda a procrastinação e a hesitação em expressar sentimentos ou pensamentos. A declaração de que "nunca é tarde demais pra dizer o que não se disse" sugere uma urgência em comunicar o que foi deixado em silêncio. A frase "pensar demais é tolice" critica a paralisia causada pelo excesso de análise, enquanto a confusão final, "nem sei mais o que dizer," encapsula a complexidade e a indecisão inerentes à experiência humana.
Conclusão
"Tolice" é um poema que utiliza imagens vívidas e uma linguagem rica para explorar os pensamentos e sentimentos humanos. As palavras são apresentadas como entidades livres e imprevisíveis, refletindo a natureza caótica do pensamento. O uso de metáforas e simbolismos cria uma atmosfera de mistério e contemplação, levando o leitor a refletir sobre a natureza ilusória das aparências e a importância de expressar o que se sente. Ao final, o poema nos deixa com uma sensação de que, apesar da complexidade da mente, a simplicidade de dizer o que se sente é um ato de coragem e clareza.