Mamãe eu bem me lembro, a gente ainda era jovem, tomava banho de lua, tinha canção, tinha viola, tinha Beatles na vitrola e passeatas nas ruas. A “Marcha da Família com Deus para a Liberdade” em São Paulo, congregou por volta de  500 mil pessoas, no Rio de Janeiro a marcha beirou a um milhão de pessoas, teve Hino Nacional e Missa pela Salvação da Democracia.

As marchas  foram articuladas pelo empresariado, pelo clero, por  núcleos políticos diversos, pelos militares, e pela sociedade conservadora que enxergara no discurso de João Goulart o então presidente democraticamente eleito, a ameaça comunista e a implementação de uma ditadura socialista.  

As mulheres receberam aulas de como pregar a união da família contra o comunismo, e orientavam parentes e amigos sobre a ameaça vermelha, foram criadas palavras de ordem como “imperialistas vermelhos” “verde amarelo sem foice e martelo”  e ”a família que reza unida permanece unida”!

O medo de perder os democráticos direitos à liberdade mobilizou inclusive a população e por todo canto sobravam panfletos do “Manifesto ao Povo do Brasil”, que demonstravam de forma inconteste que o Brasil caminhava a passos largos em direção ao comunismo.

As evidências eram, dentre outras, a transferência para a União do controle das refinarias de petróleo, a promessa da realização das reformas de base que segundo o então presidente, eram garantia da justiça social. No topo das diversas pretensões estavam a reforma urbana, e o imposto sobre grandes fortunas.

Era preciso agir! De forma drástica se preciso! E foi o que aconteceu.

Atendendo o clamor popular que temia uma ditadura comunista, por um golpe de Estado, João Goulart foi deposto e instalou-se a salvadora ditadura Militar, e umas das suas primeiras providencias foi por fim a todo tipo de manifestação pública a favor ou contra a ditadura.

Vieram os anos de chumbo, mordaça, patrulhamento geral, porrada, sangue, tortura, país que ninguém segura, futebol e carnaval. Opositores ao regime tiveram direitos políticos cassados, os meios de comunicação e artistas foram censurados.
Houve um aumento da desigualdade social, à população era negado o acesso aos dados públicos, o endividamento externo aumentou assim como a concentração de renda. A noite mais longa do Brasil durou vinte e um anos.

Hoje “patriotas” repetem o desejo popular de mais de meio século passado e clamam pela intervenção militar, que se concretizada , é fácil imaginar no que vai dar, muitos não viveram aqueles anos, para saber que os motivos e reivindicações são semelhantes.

Ao menos para mim é um filme antigo, que já assisti, não gostei, e não quero replay. Cuidado com aquilo que você deseja, pode se tornar realidade!

O autor é dramaturgo, poeta e compositor acdepaula09@gmail.com
#poetaacdepaula