Quando criança eu adorava passear com meu avô pelo centro da cidade de São Paulo, naquele tempo não existia centro velho e centro novo, as pessoas usavam terno, gravata e chapéu. Muita coisa mudou! Já há algum tempo a Praça da Sé praticamente fundiu-se à Praça Clóvis, o marco zero da cidade virou um amontoado de zumbis que adornam o chafariz e os degraus da Catedral da Sé.
A praça virou um grande camping urbano com barracas espalhadas por todo lado. A presença policial é ostensiva, mas mesmo assim não me arrisquei a fotografar a insólita paisagem. O mesmo deve acontecer com os turistas que visitam a capital do estado da bandeira de treze listras. A maioria leva apenas na lembrança a imagem dessa triste realidade, uma cicatriz aberta das mazelas da cidade.
Com o advento das audiências online dificilmente a presença do advogado se faz necessária nas dependências do fórum, o que ocorre apenas eventualmente quando o processo ainda não foi digitalizado e tramita na forma física.
Foi exatamente este o motivo que me levou ao centro da cidade, após ficar mais de dois anos sem entrar em um transporte público devido a pandemia, afinal, idoso, com todos os atributos inerentes a quem já tem mais passado do que futuro, não dava para arriscar.
Saindo do Fórum Central caminhei em direção a rua Quintino Bocaiuva, praticamente deserta se comparada há poucos anos. A loja de moda masculina onde cheguei a comprar gravatas e camisas, não existe mais, várias lojas ostentam na porta uma faixa de aluga-se ou vende-se, em pouco menos de 200 metros uma dezena de lojas fechadas.
Lá embaixo no número 22 na esquina da Rua Direita, o prédio da antiga radio Record onde no térreo funcionava a Casa Bevilácqua de instrumentos musicais, hoje tombado pelo patrimônio histórico, funciona no primeiro andar, um restaurante onde imperam as apresentações musicais. Vários violões enfeitam as janelas. Nas ruas José Bonifácio e Direita o comercio também não resistiu a intempérie econômica causada pela pandemia e diversas lojas cerraram as portas. O vai e vem de pessoas diminuiu sensivelmente!
Na Praça Patriarca o cenário também é desolador, apenas duas ou três lojas funcionando, há também diversas barracas de camping no acesso a Galeria Prestes Maia que leva ao Vale do Anhangabaú que virou paraíso de skatistas.
Atravessei o Viaduto do Chá praticamente deserto, passei pelo magnifico prédio do Teatro Municipal, onde na rua aos fundos outrora existiu uma grande loja de roupas e acessórios, uma famosa papelaria, e muito antes disso a loja Serva Ribeiro que tinha na grande fachada uma intermitente cascata artificial e cujo slogan era, uma cascata de ofertas, hoje também de portas fechadas. Entrei pela rua 24 de Maio onde os carros voltaram a circular, ali apesar de diversas lojas fechadas o movimento de pessoas ainda é grande. O baseado rolando tranquilamente de mão em mão, mas não eram os farrapos humanos da cracolândia que protagonizavam a cena.
A rua Barão de Itapetininga é a cereja deste bolo de horrores, a pichação se espalha pelas portas da aço baixadas, o movimento é grande, e a paisagem é dantesca, e faz lembrar aqueles bairros barra pesada que a gente vê em filmes. Terminei meu rolê passando pelo Largo do Paissandu, desci pela Rua Capitão Salomão onde também proliferam as portas de comercio fechadas, e fui a caminho do Metrô São Bento.
Parece que o cartão postal de São Paulo virou um reflexo do caos!