"RAP ENTE"
Pode ser impressão minha,
um mais um não é mais dois,
carretel longe da linha,
carro na frente dos bois,
não existe qualquer plano
que não traga consequência,
entre o mar e oceano,
existe sim diferença.
Entre o roto e o esfarrapado
pouco importa a aparência,
entre o sujo e o mal lavado
permanece a incoerência,
quem conta aumenta um ponto
sem sequer tomar ciência,
se é verdade ou é boato,
se é loucura ou demência.
Pode ser que seja um rap,
um baião ou um “rap ente”,
um buraco na calçada,
ou desculpa esfarrapada
em um dia de sol quente.
E a duvida permanece,
pode ser tudo ou nada,
mas, porém, talvez, contudo,
até parece absurdo,
seja coisa diferente.
Quem rabiscou nas estrelas,
ferradura atrás da porta,
é verdade ou brincadeira?
Na verdade pouco importa.
Se a maré não está pra peixe,
tire o cavalo da chuva,
amar é puro deleite,
aguente o tranco, não se queixe,
não vá derrapar na curva.
Lá no céu a lua brilha,
que o sol, a luz não lhe negue,
pra gente ver o São Jorge,
valente feito Django,
impávido no seu jegue,
brigando com o calango.
Pode ser incoerente,
até sem pé nem cabeça,
mas é preciso atitude
para que tudo aconteça.
Pode ser elo partido
de um todo que desconheço,
não sei se sou o que penso,
ou penso que sou. O que sou?
Tanta conversa vazia,
minha paciência esgotada,
tem gente de saco cheio
de tanto esperar em vão.
Nem sempre faço o que quero,
devo pensar no que faço,
danço fora do compasso,
tropeço em meus próprios passos,
sou anticonvencional.
Nos confins da periferia
de São Paulo da garoa,
tem gente que numa boa
encara qualquer parada,
e nos saraus da quebrada,
ativistas da poesia,
os super-heróis do gueto,
armados de rimas e versos,
por motivos os mais diversos,
sabem que a luta é inglória,
porém, não jogam a toalha.
Com a marreta da esperança
quebram as pedras do caminho,
sendo afrodescendentes
não se acham coitadinhos,
seus nervos não são de aço,
querem muito mais, além,
não são vacas de presépio
que vivem dizendo amém!
São, da paz, os guerrilheiros,
são radicais da quebrada,
não serão “Pedro Pedreiro”,
e nem “O Homem na Estrada’.
Pode ser que de “rap ente”
armados de livro e verso,
os sonhadores poetas
harmonizem o universo!