ENREDO DO FUTURO (trilha)
“ENREDO DO FUTURO”
quando eu chegar no futuro
vou fazer um escarcéu
armar uma batucada,
com São Beto e Noel,
Agepê, Beto Sem Braço
mestre Silas de Oliveira,
Clara Nunes, Mano Décio,
vai ter samba a noite inteira!
se a saudade é um espinho
que o coração desola,
chamo Nelson Cavaquinho,
Lupicínio e Cartola,
Candeia e Elton Medeiros,
João Nogueira e Talismã,
Dona Ivone, Jovelina,
Mario Sergio e Adoniran!
pra mostrar ao mundo inteiro
que o samba não vacila,
chamo Roberto Ribeiro
e Luiz Carlos da Vila,
peço ao Guilherme de Brito,
pra chamar o “Cachorrão”,
Beth Carvalho e Guineto
pra segurar o refrão
(fiz uns versos no boteco,
(e o samba enredo já pinta,
(pra garantir o caneco,
(Jamelão e Joãozinho Trinta!
ENREDO DO FUTURO é uma das 13 musicas que fazem parte da trilha sonora da peça A DIVINA PANACEIA CURA DE TODOS OS MALES cujo projeto além do espetáculo teatral, inclui um livro com o texto e um CD com as músicas do espetáculo que contempla a fibra de que é feita a minoria menos privilegiada da sociedade que controla as rédeas do alazão da vida e forja a sua estrela no fogo da esperança, fazendo da arte, e da sua arte de viver, a CURA DE TODOS OS MALES. Este trabalho é dedicado a todos os artistas independentes que calçam as luvas dos sonhos para dar soco na ponta da faca da realidade. O texto costurado com músicas que dele fazem parte integrante contagia evidenciado uma sensibilidade poética que reveste os diálogos impregnados de lirismo que às vezes resvalam pelo humor, e outras, cortam feito navalha afiada na pedra do cotidiano fazendo sangrar mazelas conduzindo a trama de forma contagiante, despertando emoções e integrando leitores, elenco e plateia. A música é uma homenagem a algumas figuras que tiveram destaque no universo do samba, umas conhecidas e outras nem tanto. Todas elas, por seu indiscutível talento fizeram por merecer a citação neste samba, seja como intérpretes, carnavalescos, compositores de sambas enredo ou poetas populares que como ninguém, sempre souberam falar a língua do povo.
SÃO BETO ( 1945 – 2019)
Foi um parceiro musical e amigo de longa data, amizade de mais de quarenta anos, o conheci nos anos setenta, antes ainda de eu ter gravado minha primeira musica, ele já era um compositor de sucesso, “Rock Enredo” parceira com Voltaire, “A volta do Ponteiro” parceria com Beto Scala, além de “Tem que ser agora” “Quando o surdo faz bum” “Traje de Princesa”, entre tantos outros sucessos gravados por Jair Rodrigues, Franco, Alcione, Fagner, Originais do Samba, Wando, Trio Ternura, Beto Scala. Na última década principalmente fizemos muitas musicas apesar dele morar no Engenho da Rainha no RJ e eu na grande São Paulo. Com ele participei de alguns festivais com as músicas “Quanto vale uma paixão” e “Emblema”. São Beto era considerado o melhor letrista entre os artistas e compositores que frequentavam o escritório do Seu Curumba, empresário da maioria dos cantores de sucesso nos anos 70, na Alameda Eduardo Prado 641 no bairro dos Campos Elíseos em São Paulo. Levado pelas mãos de Umberto Silva, grande compositor e pai do cantor Beto Scala, São Beto deixou o Rio de Janeiro e veio para São Paulo onde assinou contrato de exclusividade com a editora de Seu Curumba, e foi o único compositor que conheci que tinha um salario mensal, ganhava para compor, o que era sonho de muitos e realidade de quase ninguém. São Beto partiu antes do combinado e quem o conheceu sabe que agora ele deve estar fazendo piadas com os anjos e canções de amor para as estrelas.
NOEL ROSA ( 11/12/1910 — 04/05/1937))
“... na rua Teodoro da Silva, lá em Vila Isabel, nasceu o filho primeiro de Marta de Medeiros e seu Manoel, Noel de Medeiros Rosa em seu nome a flor já trazia, que despertou na ciência porém desabrochou em rodas de boêmia...” Este é um trecho do samba enredo da Vai Vai 1978, cujo tema era “Na arca de Noel quem entrou não saiu mais”. O samba com autoria de (AC de Paula, Voltaire e Rubens) não emplacou, neste ano o samba que foi pra avenida era de autoria de Oswaldinho da Cuíca. Sobre a genialidade de Noel Rosa não é preciso se falar muito.
AGEPÊ (10/08/1942 — 30/08/1995)
Antônio Gilson Porfírio, mais conhecido como Agepê. A carreira fonográfica teve início em 1975 quando lançou o compacto com a canção Moro onde não mora ninguém, primeiro sucesso, que seria regravada posteriormente por Wando. Nove anos depois, lançou o sucesso estrondoso Deixa eu te amar, que fez parte da trilha sonora da telenovela Vereda Tropical, de Carlos Lombardi. O disco Mistura Brasileira, que continha esta canção, foi o primeiro disco de samba a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas (vendeu cerca de um milhão e meio de cópias).
BETO SEM BRAÇO ( 24/05/1941— 15/04/1993)
Laudeni Casemiro, mais conhecido como Beto sem Braço, apelido lhe foi dado na infância, em consequência de uma queda de cavalo, na qual perdeu o braço direito, pertenceu à ala de compositores da Vila Isabel até 1981. Em seguida transferiu-se para G.R.E.S Império Serrano, junto com seu parceiro Aluísio Machado, já no seu primeiro ano de escola ganha o samba, que consagraria a escola no ano seguinte com o campeonato do carnaval de 1982. O campeoníssimo samba enredo "Bumbum, paticumbum, prugurundum”. Com Arlindo Cruz entre outras fez "Camarão que dorme a onda leva", na voz de Zeca Pagodinho emplacou o sucesso “Papagaio”.
MESTRE SILAS DE OLIVEIRA (04/10/ 1916 — 20/05/1972)
Apesar da resistência do pai, dono do Colégio Assumpção, que era pastor protestante e via o samba como uma ‘manifestação do diabo’., Silas que dava aulas de Português, começou a namorar uma das alunas, a jovem Elaine dos Santos. Nessa época também fez amizade com o jornaleiro Mano Décio da Viola, que se tornaria seu maior parceiro. Pelas mãos de Elaine e de Mano Décio, Silas sobe os morros cariocas atrás de rodas de samba. Com os dois, frequenta também os tradicionais pagodes nas casas das tias baianas, regados a muita bebida, comida e batucada. Seu talento como compositor começa a se revelar, ainda que timidamente. As visitas a estes locais passam a ser cada vez mais constantes e não tarda para que Silas passe a ser considerado como ‘gente da casa’ nos redutos de samba. Em 1946, Silas de Oliveira e Mano Décio compõem o samba-enredo ‘Conferência de São Francisco’ ou ‘A Paz Universal’, para a escola de samba Prazer da Serrinha, agremiação carnavalesca da qual faziam partem seguindo o decreto oficial do então Presidente da República Getúlio Vargas que exigia que as escolas desfilassem com temáticas nacionalistas em seus enredos. Porém, o presidente da Prazer da Serrinha, Alfredo Costa, não aceita a inovação - o samba-enredo obrigatório - e cancela sua apresentação no momento do desfile, o que gerou revolta nos compositores e culminou na fundação do Império Serrano, dias depois. Silas de Oliveira integra a nova escola desde seu primeiro desfile, tornando-se reconhecido como um dos grandes compositores de samba enredo para a escola de samba de Madureira. Silas dedicou 28 anos de sua vida ao Império Serrano e nesse período fez 16 sambas-enredo para a escola, dos quais 14 foram apresentados no desfile oficial. Quando o amigo Mano Décio foi para a Portela, a dupla se desfez. Mas Silas continuou compondo para a Verde-e-Branco de Madureira, muitos sambas que tornaram-se clássicos do gênero, como ‘Aquarela Brasileira’ (1964), ‘Os Cinco Bailes da História do Rio’ – em parceria com Dona Ivone Lara e Bacalhau (1965), ‘Glórias e Graças da Bahia’ – com Joacir Santana (1966) e ‘Pernambuco, Leão do Norte’, com o qual enfrentou – e venceu – o antigo parceiro Mano Décio da Viola, que retornava à escola, em 1968. ‘Heróis da Liberdade’ em 1969, foi a última parceria dos dois grandes sambistas num ano em que o jeito de fazer samba-enredo passava por grandes modificações, sobretudo no andamento acelerado, lembrando marcha carnavalesca.
CLARA NUNES (12/08/1942 – 02/04/1983)
Clara Francisca Gonçalves Pinheiro notabilizou-se como CLARA NUNES cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, também viajou para muitos países representando a cultura do Brasil. Conhecedora das músicas, danças e das tradições africanas, ela se converteu à umbanda e levou a cultura afro-brasileira para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravaram canções dos compositores da Portela, sua escola de samba de preferência. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil discos, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos. Durante toda a sua carreira, vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos. Foi considerada pela revista Rolling Stone como a nona maior voz brasileira e, pela mesma revista, quinquagésima primeira maior artista brasileira de todos os tempos.
MANO DÉCIO DA VIOLA (14/07/1909 – 18/10/1984)
Décio Antônio Carlos que ficou conhecido no meio do samba como MANO DÉCIO DA VIOLA ajudou a fundar em 1947 a escola de samba Império Serrano, que foi quatro vezes campeã cantando sambas compostos pelo, já assim chamado, Mano Décio, que ao longo de sua vida compôs mais de 500 sambas, e gravou três LPs, foi parceiro de Mestre Silas de Oliveira em diversos sambas enredo como Caçador de Esmeraldas e Heróis da Liberdade, entre outros.
NELSON CAVAQUINHO (29/10/1911 – 18/02/1986
Nelson Antônio da Silva o sambista carioca foi um importante músico brasileiro, compositor e cavaquinista na juventude, na maturidade optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, utilizando apenas dois dedos da mão direita. Seu envolvimento com a música inicia-se na família. Seu pai, Brás Antônio da Silva, era músico da banda da Polícia Militar e seu tio Elvino tocava violino. Depois, morando na Gávea, passou a frequentar as rodas de choro. Foi nessa época que surge o apelido que o acompanharia por toda a vida. Graças a seu pai, consegue um trabalho na polícia fazendo rondas noturnas a cavalo. E foi assim, durante as rondas, que conheceu e passou a frequentar o morro da Mangueira, onde conheceu sambistas como Cartola e Carlos Cachaça. Deixou mais de quatrocentas composições, entre elas clássicos como "A Flor e o Espinho" e "Folhas Secas", ambas em parceria com Guilherme de Brito, seu parceiro mais frequente. Por falta de dinheiro, depois de deixar a polícia, Nelson eventualmente "vendia" parcerias de sambas que compunha sozinho, o que fez com que Cartola optasse por abandonar a parceria e manter a amizade. Suas canções eram feitas com extrema simplicidade e letras quase sempre remetendo a questões como o violão, mulheres, botequins e, principalmente, a morte, como em "Rugas", "Quando Eu me Chamar Saudade", "Luto", "Eu e as Flores" e "Juízo Final". No carnaval de 2011 a escola de samba G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira homenageou Nelson Cavaquinho pelo seu centenário com o enredo "O Filho Fiel, Sempre Mangueira" o músico era torcedor da escola de samba carioca.
LUPICINIO RODRIGUES (16/09/1914 – 27/08/ 1974)
Torcedor do Grêmio, compôs o hino tricolor, em 1953: Até a pé nós iremos / para que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / com o Grêmio onde o Grêmio estiver. Seu retrato está na Galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube. Compôs marchinhas de carnaval e sambas-canção, músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido. Foi o inventor do termo dor-de-cotovelo, que se refere à prática de quem crava os cotovelos em um balcão ou mesa de bar, pede um uísque duplo, e chora pela perda da pessoa amada. Constantemente abandonado pelas mulheres, Lupicínio buscou em sua própria vida a inspiração para suas canções, onde a traição e o amor andavam sempre juntos. Felicidade; Nervos de Aço; Nunca; Quem há de dizer; Se acaso você chegasse; Cadeira vazia ; Ela disse-me assim; Esses moços, pobres moços, são algumas composições que se tornaram sucesso nas vozes e interpretações de grandes nomes da MPB.
CARTOLA (11/10/1908- 30/11/1980)
ANGENOR DE OLIVEIRA, carioca do bairro do Catete, cantor, compositor, poeta e violonista brasileiro aprendeu com o pai a tocar cavaquinho e violão dificuldades financeiras obrigaram a família numerosa a se mudar para o morro da Mangueira, onde então começava a despontar uma incipiente favela Tem como maiores sucessos as músicas As Rosas não Falam, O Mundo É um Moinho e Preciso me Encontrar. Tendo terminado apenas o primário arranjou emprego de servente de obra e passou a usar um chapéu-coco para se proteger do cimento que caía. Por usar esse chapéu, ganhou dos colegas de trabalho o apelido "Cartola". Junto com um grupo de amigos sambistas do morro, Cartola criou o Bloco dos Arengueiros, cujo núcleo em 1928 fundou a Estação Primeira de Mangueira. Ele compôs também o primeiro samba para a escola de samba, "Chega de Demanda". Os sambas de Cartola se popularizaram na década de 1930, em vozes ilustres como Araci de Almeida, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Sílvio Caldas. Em 1974, aos 66 anos, Cartola gravou o primeiro de seus quatro discos-solo e sua carreira tomou impulso de novo com clássicos instantâneos como "As Rosas não Falam", "O Mundo É um Moinho", "Acontece", "O Sol Nascerá" (com Elton Medeiros), "Quem Me Vê Sorrindo" (com Carlos Cachaça), "Cordas de Aço", "Alvorada" e "Alegria". No final da década de 1970, mudou-se da Mangueira para uma casa em Jacarepaguá, onde morou até a morte, em 1980.
CANDEIA (07/08/1935 — 16/11/1978)
Antônio Candeia Filho. sambista e boêmio, o pai tocava flauta em rodas de choro e samba na década de 1930 e é considerado o idealizador das Comissões de Frente das escolas de samba. Tanto sua casa quanto a de dona Ester, ambas localizadas no bairro de Oswaldo Cruz, eram frequentadas assiduamente por sambistas, como Paulo da Portela, João da Gente, Dino do Violão, Claudionor Cruz, Cumpadi Cambé, Zé da Fome, Luperce Miranda. Dessas reuniões, acabou nascendo um bloco carnavalesco que teve vários nomes até chegar a "Bloco Vai Como Pode"[ Desde os seis anos, Candeia frequentava esses encontros e, mais tarde, também participava das rodas musicais. Ainda jovem, aprendeu violão e cavaquinho, começou a jogar capoeira e a costumava ir a terreiros de candomblé. Como integrante da escola de samba Vai Como Pode, ele participou do núcleo original de sambistas que fundou a Portela. Em 1953, Candeia compôs seu primeiro samba para a nova escola de samba, "Seis datas magnas", em parceria com Altair Marinho, que conseguiu a nota máxima do júri, um fato inédito até então. Venceu outras quatro seletivas de samba da Portela: "Festas juninas em fevereiro" (1955) e "Legados de Dom João VI" (1957), ambos em parceria com Waldir 59, "Rio, capital eterna do samba" e "Histórias e tradições do Rio Quatrocentão" No início da década de 1960, Candeia ingressou na Polícia Civil, assumindo o cargo de investigador. Ganhou fama como policial enérgico e truculento, principalmente com prostitutas e malandros, e chegou mesmo a receber vários prêmios por sua atuação na corporação. Sem abandonar o samba, dirigiu o conjunto Mensageiros do Samba, ao lado de Picolino e Casquinha, e realizou suas primeiras apresentações no bar Zicartola e, mais tarde, em 1964, teve lançado um LP. No entanto, sua carreira como policial terminou de modo trágico em 13 de dezembro de 1965. Ao se envolver em uma batida de trânsito, acabou surpreendido pelo motorista que lhe desferiu cinco tiros, um deles alojou-se na medula espinhal e o deixaria sem movimento nas pernas Com a paralisia, foi obrigado a se aposentar por invalidez e passou a se locomover em cadeira de roda. A limitação física o levou a mergulhar em uma profunda depressão. Ao mesmo tempo, Candeia pôde se dedicar exclusivamente ao samba, que passaria por profundas mudanças. Segundo pessoas próximas, ele se tornou mais sensível, equilibrado e liberto, corrigindo seu caráter e enriquecendo sua obra como sambista, que atingiria maturidade de caráter lírico e social, mostrando um homem amargurado, mas que tentara resistir. Muitas de suas letras procurariam discutir sua nova condição, tendo no compor e cantar do samba o sentido e o significado de sua vida bem como ele se dedicou a retomar o legado de seu pai através dos pagodes que comandava. Isso contribuiu para que o sambista começasse a resgatar sua autoestima. Em 1977, Candeia participou do álbum "Quatro grandes do samba", que contava também com Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Elton Medeiros.
ELTON MEDEIROS (22/07/1930 - 04/09/2019)
Élton Antônio Medeiros foi um compositor, cantor, produtor musical e radialista brasileiro. Considerado um dos melhores melodistas e ritmistas da história do samba, Elton teve sua trajetória na música iniciada aos dezessete anos quando tocava de dia na Orquestra Juvenil de Estudantes, que se apresentava na Rádio Roquette-Pinto, e à noite tocava trombone na gafieira Fogão, do compositor Uriel Azevedo. Elton Medeiros começou sua carreira de compositor sendo fundador da ala dos compositores da escola de samba Aprendizes de Lucas. Seu samba "Exaltação a São Paulo" foi considerado um dos melhores da história da escola. Porém, é através das reuniões no Zicartola que Elton Medeiros criará suas principais obras, sendo um dos principais incentivadores e frequentadores do restaurante musical localizado em um sobrado na Rua da Carioca. Lá, entrou em contato com sambistas como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Ketti, Ismael Silva e Paulinho da Viola, que se tornaria seu principal parceiro musical. Além disso, como fruto do Zicartola surgiram o grupo A Voz do Morro e o show A Rosa de Ouro. Entre os principais sambas de Elton Medeiros, destacam-se clássicos como "Peito Vazio", "O Sol Nascerá" (em parceria com Cartola), "Pressentimento" (com Hermínio Bello de Carvalho), "Mascarada" (Zé Ketti) e "Onde a Dor Não Tem Razão" (com Paulinho da Viola).
JOÃO NOGUEIRA (12/11/1941 – 05/06/2000)
João Batista Nogueira Junior, mais conhecido como João Nogueira foi um cantor e compositor brasileiro que desde o início de sua carreira ficou conhecido pelo suingue característico de seus sambas. Filho do advogado e músico João Batista Nogueira e irmão da também compositora, Gisa Nogueira, cedo tomou contato com o mundo musical. Logo, aprendeu a tocar violão e a compor em parceria com a irmã. João Nogueira começou a compor aos quinze anos, fazendo sambas para o bloco carnavalesco Labareda, do Méier, através do qual conheceu o músico Moacyr Silva, dirigente da gravadora Copacabana, que o ajudou a gravar o samba Espere, Ó Nega, em 1968. Mas ele apareceu na cena artística nacional quando no início dos anos 70 emplacou o sucesso Das 200 Pra Lá, samba que defendia a política de expansão de nossa fronteira marítima ao longo de 200 milhas da plataforma continental. O samba assumiu as primeiras posições das paradas na voz de Eliana Pittman e mereceu citação em reportagem da revista americana Time, pelo seu tom nacionalista afirmativo. Funcionário da Caixa Econômica, João se viu às voltas com certo patrulhamento, já que a bandeira das 200 milhas havia sido levantada pelo governo militar. Seu primeiro disco foi um compacto simples com Alô Madureira e Mulher Valente. Em 1969 Elizeth Cardoso gravou seu Corrente de Aço. Nó na Madeira (parceria com Eugênio Monteiro) e Mineira, uma homenagem a Clara Nunes, parceria com Paulo Cesar Pinheiro, o marido da cantora, foram grandes sucessos. Em 1979, João fundou o Clube do Samba com Alcione, Martinho da Vila e Beth Carvalho, entidade à qual dedicou o título de seu disco daquele ano, que trouxe novos sucessos, como Súplica e Canto do Trabalhador (com Paulo. Cesar Pinheiro). Uma das músicas mais cantadas de João, uma espécie de hino dos compositores, foi o sucesso do disco de 1980, Boca do Povo. Trata-se de Poder da Criação (“Ninguém faz samba só porque prefere/ Força nenhuma no mundo interfere/ Sobre o poder da criação”), novamente com Paulo Cesar Pinheiro, seu parceiro mais constante, com quem lançaria o CD Parceria, em 1994, no qual comemoravam 22 anos de composições conjuntas e mais de cinquenta obras compostas. “A gente senta junto e, quando levanta, está saindo um samba. Até mesmo sem querer”, diria João. Nas dezessete faixas do CD, há uma homenagem a Clara Nunes, morta em 1983, nas faixas Um Ser de Luz e As Forças da Natureza, de versos emocionados como As pragas e as ervas daninhas/ As armas e os homens do mal/ Vão desaparecer/ Nas cinzas de um Carnaval.
TALISMÃ morreu num dia qualquer dos anos 90. Praticamente esquecido. Sua morte não foi notícia dos grandes jornais. Não se sabe a data de seu nascimento, nem tampouco o dia de sua morte.
Octávio da Silva, nasceu no bairro carioca da Piedade. Violonista, compositor e carnavalesco com prática na confecção de esculturas em papel machê, muito comuns nos carnavais do passado, ele desfilou alguns anos na Unidos de Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio. Curiosamente é considerado um grande nome do samba paulistano, pois convidado por Inocêncio Tobias, o Mulata, presidente e fundador da Camisa Verde e Branco, de São Paulo, em 1967, Talismã mudou-se para São Paulo, onde viveu o resto de sua vida, tendo colaborado como compositor e carnavalesco com diversas escolas da Terra da Garoa, entre elas, a Rosas de Ouro, o Morro da Casa Verde e a Unidos de Vila Maria, além da Camisa, escola da qual é autor do samba-hino Sou Verde e Branco (parceria com Jordão), vencedor do Festival de Samba de Quadra (1974). Na Camisa, logo que chegou à cidade, venceu o samba-enredo de 1968 (Há Um Nome Gravado na História: 13 de Maio) e de 1969, Biografia do Samba, que levou o cordão Camisa Verde e Branco ao título e se tornou o Hino do Samba de São Paulo. Em 1971, venceu novamente o samba-enredo no cordão com Sonho Colorido de Um Pintor (parceria com Benedito Lobo), gravado com sucesso por Tom Zé. Negro Maravilhoso (1982, gravada pelos Originais do Samba) é outro de seus grandes sambas feitos para a verde e branco da Barra Funda. Em 1979, o compositor teve seu samba Meu Sexto Sentido (parceria com Raymundo Prates) gravado no LP No Pagode, de Beth Carvalho, que já nessa época garimpava o samba bom pela Pauliceia, onde no início dos anos 80 chegou a batizar a Rua do Samba, que a Camisa Verde e Branco, escola de Talismã, promovia diante do salão São Paulo Chic, na Rua Brigadeiro Galvão, na Barra Funda. Não precisa dizer que o compositor foi uma das grandes atrações daquele domingo, para delírio das pessoas ali reunidas. Foi um momento de consagração do poeta, quando Beth, generosa, o chamou ao palco e cantou seu samba “a noite vem chegando, e com ela meu sofrimento, solidão é o meu tormento, busca-la não devo ir, até os passarinhos que cantavam em madrigais, agora já não cantam mais”. Samba lindo! Ele, todo sem jeito, recolheu os louros da vitória de ser gravado pelo nome maior
movia com certa lentidão. Sensível, poeta 24 horas por dia, ele amava a natureza, tema recorrente em suas letras. Pena que se tenha tão poucos detalhes do poeta carioca que virou um patrimônio do samba paulista.
DONA IVONE LARA (13/04/1922 – 16/04/2018)
Yvonne Lara da Costa, mais conhecida como Dona Ivone Lara, foi uma cantora e compositora brasileira. Conhecida como Rainha do Samba e Grande Dama do Samba ela foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e a fazer parte da ala de compositores de uma escola, a Império Serrano. Formada em enfermagem e assistência social, antes de se consagrar como cantora e compositora, desempenhou importante papel como enfermeira na reforma psiquiátrica no Brasil, ao lado da médica Nise da Silveira, dedicando-se a essa atividade durante mais de trinta anos, antes de se aposentar e dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e João da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio de Janeiro, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais seu João também se apresentava. Com a morte do pai, com menos de três anos de idade, e da mãe aos dezesseis foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Guimarães e recebeu elogios do marido desta, o maestro Villa-Lobos. Casou-se em 4 de dezembro de 1947 com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foram casados durante 28 anos, até a morte de Oscar. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira. Compôs o samba Nasci para Sofrer, que se tornou o hino da escola de samba Prazer da Serrinha, fundada na década de 40 e extinta em 1952. Com a fundação da escola de samba Império Serrano em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Também compôs o samba Não Me Perguntes, e a consagração veio em 1965, com Os Cinco Bailes da História do Rio, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de Castro, Roberta Sá, Marisa Monte e Dorina. Uma de suas composições mais conhecidas, em parceria com Délcio Carvalho, foi Sonho Meu, sucesso na voz de Maria Bethânia e Gal Costa em 1978, cujo álbum ultrapassou um milhão de cópias vendidas. Em 2010 foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014 foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Um mês antes, Dona Ivone havia participado do primeiro dia de gravações do Sambabook, em homenagem à sua carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan e Reinaldo, O Príncipe do Pagode fizeram versões de canções de Dona Ivone, enquanto ela própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto, André. Em 2015, entrou para a lista das "Dez Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio".
JOVELINA PEROLA NEGRA (21/07/1944 – 02/11/1998)
Jovelina Farias Belfort, cantora e compositora brasileira, e uma das grandes musas do samba. Voz rouca, forte, de tom popular e força batente. Herdeira do estilo de Clementina de Jesus, foi, como ela, empregada doméstica antes de fazer sucesso no mundo artístico. Nascida em Botafogo (zona sul do Rio de Janeiro), Jovelina logo fincou pé na Baixada Fluminense. Apareceu para o grande público no disco Raça Brasileira. Pastora do Império Serrano, ajudou a consolidar o pagode. Verdadeira tiete do partideiro Bezerra da Silva, Jovelina começou a dizer seus pagodinhos no Vegas Sport Clube, em Coelho Neto, levada pelo amigo Dejalmir, que também lançou o nome Jovelina Pérola Negra, homenagem à sua cor reluzente. Gravou cinco discos individuais conquistando um Disco de Platina. Atualmente são encontradas apenas as coletâneas com os grandes sucessos como "Feirinha da Pavuna", "Bagaço da Laranja" (gravada com Zeca Pagodinho), "Luz do Repente", "No Mesmo Manto" e "Garota Zona Sul", entre outros. O sucesso chegou tardiamente e ela não realizou o sonho de "ganhar muito dinheiro e dar aos filhos tudo o que não teve". O estilo muito pessoal de Jovelina Perola Negra conquistou muitos fãs no meio artístico, levando até mesmo Maria Bethânia a uma apresentação no Terreirão do Samba, na Praça Onze de Junho, de onde a diva da música popular brasileira só saiu depois de ouvir "dona Jovelina versar". Alcione já homenageou a "Pérola Negra" em um de seus melhores discos, "Profissão Cantora". Enquanto o samba e o verdadeiro partido-alto existirem, assim como Clementina de Jesus, Jovelina sempre será lembrada pela voz potente e a ginga própria.-
MARIO SERGIO (10/12/1958 – 29/05/2016)
Mário Sérgio Ferreira Brochado, o paulistano MARIO SERGIO foi um cantor, compositor e instrumentista, mais notabilizado por ter sido integrante do grupo de samba Fundo de Quintal, o prestigiado representante do mais puro samba carioca que teve entre seus integrantes Jorge Aragão, Almir Guineto, Sombrinha. Tendo se aproximado do Fundo de Quintal na década de 1980, Mario Sérgio foi convidado a integrar o conjunto de samba carioca oficialmente em 1991, quando a banda lançou o LP "É Aí Que Quebra a Rocha". A partir da saída de Arlindo Cruz, tornou-se a principal voz do grupo e um de seus grandes compositores. Em 2008, o sambista paulistano chegou a deixar o Fundo de Quintal para tentar carreira solo, no entanto, sem o sucesso esperado, decidiu retornar ao grupo cinco anos mais tarde.
ADONIRAN BARBOSA (06/08/1910 – 23/11/198)
João Rubinato filho de Francesco Rubinato e Emma Ricchini, imigrantes italianos da localidade de Cavarzere, província de Veneza foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro. Necessitando trabalhar para ajudar a família numerosa – Adoniran tinha sete irmãos, e procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moravam primeiro em Valinhos (então distrito de Campinas), depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo. Em Jundiaí, Adoniran exerce seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Procura de várias maneiras fazer seu sonho de ser artista acontecer. Tenta antes do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso nos teatros como ator lhe é para sempre abortado. O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome no rádio. Quer ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o leva a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição mas, nesse momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Daí sua escolha recair não sobre a composição, mas sobre a interpretação Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admira – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar. É gongado, mas insiste e volta novamente ao mesmo programa; agora cantando o belo samba de Noel Rosa, Filosofia, que lhe abre as portas das rádios e ao mesmo tempo serve como mote para suas composições futuras. Rubinato representava em programas de rádio diversas personagens, entre as quais, Adoniran Barbosa, que acabou por se confundir com seu criador dada a sua grande popularidade. Sua primeira canção gravada é Dona Boa, na voz de Raul Torres, uma marcha que venceu o concurso de músicas carnavalescas promovido pela prefeitura municipal de São Paulo no ano de 1935. Depois grava em disco Agora pode chorar, que não faz sucesso algum. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos por Osvaldo Moles, fazem do sambista um homem de relativo sucesso. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir desses programas que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes. O seu primeiro sucesso como compositor vira canção muito conhecida nas rodas de samba, das casas de espetáculo: "Trem das Onze". É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcança, então, o almejado sucesso que, entretanto, dura pouco e não lhe rende mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (esta cidade era conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto seja paulista, a música acontece primeiramente no Rio de Janeiro, A música foi premiada no carnaval de 1964 do Rio de Janeiro, sendo vencedora do Prêmio de Músicas Carnavalescas do IV Centenário do Rio de Janeiro, além de ter sido escolhida pela população de São Paulo em um concurso da Rede Globo, tendo sido incluída entre os 10 maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos com sucesso retumbante. Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo… quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas… Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise.”
ROBERTO RIBEIRO (20/07/1940 – 09/01/1996)
Dermeval Miranda Maciel foi um Cantor e Intérprete de Samba-Enredo Brasileiro. Sambista do Império Serrano, Roberto Ribeiro construiu uma respeitável carreira de Intérprete e Compositor Desde a Segunda Metade da década de 1960. De voz bem Timbrada e Enxuto Fraseado, Seu Repertório Incluíam Sambas de Todos os Tipos, Como Afoxés, Ijexás, Maracatus e outros Ritmos Africanos. Tem Mais de 20 Discos Gravados, com sucessos populares como as canções "Acreditar", "Estrela de Madureira", "Todo Menino É um Rei", "Vazio", "Malandros Maneiros", "Fala Brasil" "Amor de Verdade"e “Propagas”. Filho de Antônio Ribeiro de Miranda (um jardineiro) e Júlia Maciel Miranda, Roberto, apesar de não ter nascido no Rio de Janeiro, era um carioca típico, apaixonado por futebol e samba. Aos nove anos de idade, trabalhava como entregador de leite. Naquele tempo, já frequentava a Escola de Samba Amigos da Farra, da cidade de Campos dos Goytacazes, e participava das festas do tradicional "Boi Pintadinho” Ele foi jogador de futebol profissional em sua cidade natal. Depois de passagens por equipes amadoras (Cruzeiro e Rio Branco), ele se tornou goleiro do Goytacaz Futebol Clube. Era conhecido pelo apelido de "Pneu". Em 1965, Roberto mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro em busca de um lugar em um clube grande carioca. Chegou a treinar no Fluminense, mas acabou desistindo da carreira e começou a trabalhar com música, a se apresentar no programa "A Hora do Trabalhador", da Rádio Mauá, do Rio de Janeiro. Sua performance chamou a atenção da compositora Liette de Souza (que viria a ser sua esposa), irmã do compositor Jorge Lucas. Ela resolveu apresentá-lo aos sambistas da Império Serrano e Roberto passou a frequentar as rodas de samba da tradicional escola de Madureira. A diretoria da Império convidou-o para ser o Intérprete de Samba-Enredo da Escola no Carnaval de 1971. Ele aceitou, mas se afastou nos dois carnavais seguintes para gravar seus primeiros discos como cantor. A partir de 1974, Roberto Ribeiro firmou-se como Intérprete oficial da Império, defendendo a agremiação até o Carnaval de 1981. Dentre os grandes destaques nos desfiles cariocas, estão os sambas-enredo "Brasil, Berço dos Imigrantes", de 1977 (feito em parceria com o cunhado Jorge Lucas), e em "Municipal Maravilhoso, 70 Anos de Glórias", de 1979 (parceria com Jorge Lucas e Edson Passos). Sua carreira como cantor ganhou impulso a partir de 1972 com gravações de três compactos em parceria com Elza Soares pela Odeon. Satisfeita com o sucesso dos compactos, o selo lançou o LP "Elza Soares e Roberto Ribeiro - Sangue, Suor e Raça". No ano seguinte, Roberto gravou um LP, "Simone et Roberto Ribeiro - Brasil Export 73 Agô Kelofé", junto com a Simone, lançado pela Odeon exclusivamente para o mercado externo. Naquele mesmo ano de 1973, lança o primeiro álbum solo, "Roberto Ribeiro". Em 1975, a mesma gravadora lançou o compacto duplo "Sucessos 4 sambas", no qual Roberto Ribeiro interpretou "Leonel/Leonor" (de Wilson Moreira e Neizinho). Ainda neste ano, foi lançado o disco "Molejo", que despontou com os sucessos "Estrela de Madureira" (de Acyr Pimentel e Cardoso) e "Proposta amorosa" (de Monarco) e chamou a atenção da crítica. No ano seguinte, foi lançado "Arrasta Povo", LP que destacou mais dois grandes sucessos nas rádios de todo o Brasil: "Tempo Ê" (de Zé Luiz e Nelson Rufino) e "Acreditar" (de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho). Gravou em 1977 o LP "Poeira Pura", onde se destacou "Liberdade" (de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho). Um ano depois, foi lançado o álbum "Roberto Ribeiro", que o colocou outra vez nas lista dos discos mais vendidos, puxado pelos sucessos "Todo menino é um rei" (de Nelson Rufino e Zé Luiz), "Amei demais" (de Flávio Moreira e Liette de Souza), "Isso não são horas" (de Catoni, Chiquinho e Xangô da Mangueira) e "Meu drama (Senhora tentação)" (de Silas de Oliveira e J. Ilarindo) - esta incluída também na trilha sonora da novela "Pai Herói", da Rede Globo. Em 1979, foi a vez do lançamento do LP "Coisas da Vida", que teve entre as mais tocadas "Vazio" (de Nelson Rufino), também conhecida na época como "Está faltando uma coisa em mim", e "Partilha" (de Romildo e Sérgio Fonseca). Em 1985, foi lançado o LP "Corrente de Aço", que contou com a participação de Chico Buarque de Hollanda na música "Quem te viu, quem te vê" (do próprio Chico) e de Nei Lopes, em "Malandros maneiros" (Nei Lopes e Zé Luiz). Em 1987, Roberto Ribeiro gravou o disco "Sorri pra Vida", obtendo sucesso com a faixa "Ingrata Paixão" (de Mauro Diniz, Adílson Victor e Ratinho) e, um ano depois, "Roberto Ribeiro", que contou com a participação especial de Alcione na faixa "Mel pra minha dor" (de Nelson Rufino e Avelino Borges) e do Grupo Raça, em "Malandro mais um" (de Ronaldinho e Carlos Moraes). Passou a sofrer de um seríssimo problema de vista e, em janeiro de 1996, faleceu em virtude de atropelamento no bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Perdeu um olho em razão de uma contaminação por fungo agravada pelo diabetes). Um ano antes, em 1995, a EMI-Odeon lançou a coletânea "O Talento de Roberto Ribeiro", na qual compilou 22 sucessos de seus vários discos. Roberto participara ainda naquele ano do disco-homenagem "Clara Nunes com Vida", produzido por Paulo César Pinheiro, no qual interpretou (com sua voz acrescida posteriormente) um dueto com Clara Nunes, "Coisa da Antiga" (de Wilson Moreira e Nei Lopes). Sua vida foi contada em livro de autoria de sua própria esposa, Liette de Souza Maciel, com o título "Dez anos de saudade" (Potiguar Editora).
LUIZ CARLOS DA VILA (21/07/1949 – 20/10/2008)
Luiz Carlos Baptista, conhecido como Luiz Carlos da Vila, foi um compositor e sambista brasileiro, conhecido por sua passagem pela ala de compositores da Vila Isabel. Foi um dos compositores do samba-enredo Kizomba, a Festa da Raça, que consagrou a escola em 1988. Também compôs Samba que nem Rita, à Dora, gravada por Seu Jorge. Nasceu no bairro carioca de Ramos. O nome artístico "da Vila" foi incorporado em 1977, após sua entrada na ala de compositores da escola de samba Vila Isabel. Segundo outras informações, o nome também era creditado a ele por ser morador do bairro Vila da Penha, mais especificamente da "Travessa da Amizade". Seu primeiro instrumento foi o acordeão, seguido de um violão que ganhou ainda na adolescência. Mas, com o desemprego de seu pai, foi obrigado a interromper as aulas. Frequentou o tradicional bloco carnavalesco Cacique de Ramos no final da década de 1970, sendo considerado um dos formatadores do samba carioca contemporâneo, de uma geração de compositores integrada também por Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Sereno do Cacique, Sombrinha, Sombra, Cláudio Camunguelo, entre outros. Em 2003 criou junto com Dorina e Mauro Diniz o grupo Suburbanistas que cantavam os compositores do Subúrbio Carioca - fizeram muitos shows e foram matéria de mestrado de alunos de Jornalismo. Criou também com Dorina e Mauro o Bloco Suburbanistas que saia em Irajá, Vila da Penha, Vista Alegre, Brás de Pina e Santa Tereza. Cantou na Europa um ano antes de falecer. Seu samba Doce Refúgio foi eternizado pelo Grupo Fundo do Quintal e pela Madrinha do Samba Beth Carvalho.
GUILHERME DE BRITO (02/01/1922 – 26/04/2006)
Guilherme de Brito Bollhorst nascido em Vila Isabel, filho de Alfredo Nicolau Bollhorst e Marieta de Brito Bollhorst. Aos oito anos ganhou um cavaquinho e aos doze anos, com a morte do pai, largou os estudos e conseguiu um emprego na Casa Edison. Com o tempo passou a utilizar mais o violão. Já tinha uma boa produção de músicas quando, em 1955, o cantor Augusto Calheiros gravou um compacto com dois de seus sambas: "Meu dilema" e "Audiência divina". Ainda nos anos 1950, conheceu o seu grande parceiro, Nélson Cavaquinho. A primeira parceria de Guilherme de Brito e Nélson Cavaquinho, foi um samba denominado "Garça", Guilherme fizera a primeira parte e mostrara a Nélson, que sem hesitar, fizera a segunda parte do samba. Deu-se início a dupla mais poética e lírica da música popular brasileira. A dupla Guilherme de Brito e Nélson Cavaquinho rendeu vários sucessos, dentre os quais, podemos destacar: "A flor e o espinho", "Folhas secas", "Pranto de poeta", "O bem e o mal", "Quando eu me chamar saudade", entre outras. Considerado por muitos como o grande poeta do samba, fez versos definitivos como "Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor", de "A flor e o espinho". Ou mesmo "Quando eu piso em folhas secas/Caídas de uma mangueira", de "Folhas secas". Guilherme de Brito gravou pela primeira vez em 1977. Atuou também como pintor, tendo sido premiado por seus quadros, e como escultor. Expôs no Japão, onde também lançou um CD.
JAIR RODRIGUES “ O CACHORRÃO” (06/02/1939 – 08/05/2014)
Segundo o apresentador Raul Gil “Fui eu que comecei a chamá-lo de Cachorrão. Ele adorava me ver imitar o Ronald Golias, que gostava de interpretar um cachorrão", "No início das nossas carreiras, ele não tinha carro e pegava carona comigo. Ele mexia com as pessoas nas ruas e se abaixava no carro, aí as pessoas olhavam feio para o carro e, como o Jair estava escondido, pensavam que fosse eu. Aí, eu falava 'seu cachorrão'. Jair Rodrigues de Oliveira é considerado por muitos, o primeiro rapper brasileiro. Ele conseguiu o status de precursor do gênero por ter lançado, ainda nos anos 1960, "Deixa isso pra lá". Com versos mais declamados (ou falados) do que cantados, a música se tornou um de seus principais sucessos. A faixa ganhou popularidade também graças à sua coreografia com as mãos. Durante a juventude, teve várias profissões, entre as quais engraxate, mecânico e pedreiro, até participar de um programa de calouros da Rádio Cultura e se classificar em primeiro lugar. No início da década de 60, ele foi tentar o sucesso na capital do estado e acabou por participar de programas de calouros na televisão. Com o lançamento do primeiro LP, O samba como ele é, em 1964, fez algum sucesso com o samba O morro não tem vez, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Porém, foi cantando em boates o samba Deixa isso pra lá, de Alberto Paz e Edson Menezes, que ele conseguiu um grande sucesso e gravou o seu segundo LP, Vou de Samba com Você, ainda em 1964. Em 1965, Elis Regina e Jair Rodrigues fizeram muito sucesso com sua parceria em O Fino da Bossa, programa da TV Record. Dois na Bossa é o primeiro álbum ao vivo da cantora Elis Regina, do cantor Jair Rodrigues e da banda Jongo Trio, lançado em 1965 pela gravadora Philips disco gravado ao vivo no Teatro Paramount de São Paulo em 7, 8 e 12 de abril de 1964, sob a direção de Walter Silva “O Pica Pau”. Em 1966, o cantor participou e venceu o II Festival da Música Popular Brasileira, com a canção Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, empatando com a música A Banda, de Chico Buarque. Conhecido por cantar sambas, a escolha de Jair Rodrigues para defender a musica no festival não era de agrado dos autores visto que Jair era muito brincalhão estava sempre fazendo palhaçada e plantando bananeira no palco, no entanto Jair Rodrigues surpreendeu os autores e o público com uma interpretação impecável, linda e arrepiante transbordante de emoção e seriedade até hoje não superada. A partir daquele momento, sua carreira decolou e seu talento lhe assegurou décadas de sucesso colocando-o entre os grandes intérpretes da musica brasileira. Nesse período, o artista realizou turnês por Europa, Estados Unidos e Japão. Em 1971, gravou o samba-enredo Festa para um Rei Negro, da Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro Com ele em 1987 tive a grata satisfação de gravar duas músicas “Canto Livre, e “Filha da filha da Chiquita Bacana” ambas em parceria com Beto Scala. Jair interpretou ainda sucessos sertanejos como O Menino da Porteira, Boi da Cara Preta e Majestade o Sabiá e até hoje é lembrado por seu talento, por sua grande energia e sua alegria contagiante.
BETH CARVALHO (05/05/1046 – 30/04/2019)
Elizabeth Santos Leal de Carvalho, mais conhecida como Beth Carvalho foi uma cantora, compositora e instrumentista brasileira. Desde que começou a fazer sucesso, na década de 1970, Beth se tornou uma das maiores intérpretes de samba, ajudando a revelar nomes como Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, grupo Fundo de Quintal, Arlindo Cruz[e Quinteto em Branco e Preto. Beth fez balé por toda infância e na adolescência estudou violão, numa escola de música. Seguindo essa área, se tornou professora de música e passou a dar aulas em escolas locais. Morou em vários bairros do Rio e seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas e rodas de samba, onde ela dançava em apresentações nas festas e reuniões musicais com seus amigos. Assim, na década de 1960, surgia a cantora Beth Carvalho, influenciada por tudo isso e pela bossa nova, gênero musical que passou a gostar depois de ouvir João Gilberto, passando a compor e a cantar. Em 1964, seu pai foi cassado pelo golpe militar por sua ideologia de esquerda. Para superar as dificuldades que sua família enfrentou durante a ditadura, Beth voltou a dar aulas de violão, dessa vez para quarenta alunos. Graças à formação política recebida de seus pais, foi uma artista engajada nos movimentos sociais, políticos e culturais brasileiros e de outros povos. Um exemplo foi a conquista, ao lado do cantor Lobão e de outros companheiros da classe artística, de um fato que até então era inédito no mundo: a numeração dos discos. Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples com a música Por Quem Morreu de Amor, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Em 1966, já envolvida com o samba, participou do show A Hora e a Vez do Samba, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais e Beth participou de quase todos: Festival Internacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil Canta no Rio, entre outros. No FIC de 68, conquistou o 3º lugar com Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou conhecida em todo o país. Além de seu primeiro grande sucesso, Andança é o título de seu primeiro LP lançado no ano seguinte. A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários sucessos como 1.800 Colinas, Saco de Feijão, Olho por Olho, Coisinha do Pai, Firme e Forte, Vou Festejar, Acreditar, Mas Quem Disse que Eu te Esqueço. Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Em 1972, buscou Nelson Cavaquinho para a gravação de Folhas Secas e em 1975 fez o mesmo com Cartola, ao lançar As Rosas Não Falam. Pagodeira, conheceu a fertilidade dos compositores do povo e, mais do que isso, conheceu os lugares onde estavam, onde viviam, onde cantavam e tocavam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila, Jorge Aragão , Bezerra da Silva e muitos outros. Por essa característica, Beth ganhou a alcunha de "Madrinha do Samba". Mais do que isso, a cantora trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tantã e o repique de mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique. A partir daí, esta sonoridade se proliferou por todo o país e Beth passou a ser chamada de "Madrinha do Pagode". Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil, é aclamada também como a "Diva dos Terreiros". Foram 51 anos de carreira, 31 discos, 2 DVDs e apresentações em diversas cidades do mundo: Angola, Atenas (onde representou o Brasil no festival “Olimpíada Mundial da Canção” em um teatro de arena construído 400 anos a.C. Beth tem um busto na Grécia), Berlim, Boston (na Universidade de Harvard), Buenos Aires (no Luna Park projeto “Sin Fronteiras” da cantora e amiga Mercedes Sosa), Espinho, Frankfurt, Munique, Johannesburgo, Lisboa (no show do jornal comunista “Avante”, para um público de 300 mil pessoas), Lobito, Luanda, Madri, Miami, Montevidéu, Montreux (onde participou do famoso festival em 87, 89 e 2005), Nice, New Jersey, Nova York (no Carnegie Hall), Newark, Paris, Punta del Este, São Francisco, Soweto, Varadero (Cuba), Zurique, Milão, Padova, Toulouse e Viena. No Japão, embora nunca tenha feito shows, vendeu milhares de cópias de CDs e teve sua carreira musical incluída no currículo escolar da Faculdade de Música de Kyoto. Beth Carvalho recebeu seis Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, 9 de Platina, 1 DVD de platina, centenas de troféus e premiações diversas. Em 1984, foi enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, com o qual a escola foi campeã e subiu para o Grupo Especial. Como o Sambódromo foi inaugurado naquele mesmo ano, Beth e a Cabuçu foram as primeiras campeãs do Sambódromo. Dentre todas as homenagens já feitas à grande cantora, Beth considerava esta a maior de todas. E declarava: “Não existe no mundo, nada mais emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”. Em 1985, Beth foi enredo novamente. Dessa vez, da escola de samba Boêmios de Inhaúma. Em 1997, viu a música “Coisinha do Pai”, grande sucesso de seu repertório, ser tocada no espaço sideral, quando a engenheira brasileira da Nasa Jacqueline Lyra, programou para ‘acordar’ o robô em Marte. Beth Carvalho gravou o 25º disco, “Pagode de Mesa” ao vivo, em apresentação na gravadora Universal Music. Max Pierre, diretor artístico da Universal, traduziu o que ela costumava fazer sempre: cantar o samba de raiz em torno das mesas de quintais, terreiros e quadras, nos pagodes que reúnem os melhores partideiros, músicos e poetas do gênero. Embora mangueirense de coração, Beth foi homenageada pela Velha Guarda da Portela, com uma placa alusiva ao fato de ser a cantora que mais gravou seus compositores. Em junho de 2002, recebeu das mãos da sambista Dona Zica, viúva de Cartola, o Troféu Eletrobrás de Música Popular Brasileira. A entrega desse Troféu, realizada no Teatro Rival do Rio de Janeiro, tornou-se, com Beth Carvalho, um recorde de bilheteria da casa. Carioca da gema e amiga de Cuba, foi solicitada pela presidência da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para entregar a Fidel Castro, o título de Cidadão Honorário da cidade. Seu 26º disco, “Pagode de Mesa 2”, concorreu ao Grammy Latino na categoria melhor disco de samba. O 27° foi o CD “Nome Sagrado – Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho”, seu compositor preferido, com participação do afilhado Zeca Pagodinho, Wilson das Neves, Guilherme de Brito (parceiro mais constante de Nelson). Este projeto foi tirado de uma gravação caseira do arquivo de Beth e vendido em bancas de jornal. A cantora obteve grande repercussão pela ousadia da empreitada e concorreu ao Prêmio TIM de Música Brasileira como melhor disco de samba. Seu 28° CD, “Beth Carvalho canta Cartola“, foi uma compilação idealizada pelo jornalista e grande fã de Beth, Rodrigo Faour. Beth foi a intérprete preferida de Cartola e responsável pela volta desse grande mestre à mídia. Em 2004, a cantora gravou seu primeiro DVD Beth Carvalho - A Madrinha do Samba, que lhe rendeu um disco de Platina. O CD que saiu junto foi disco de ouro e indicado ao Grammy Latino de 2005 como Melhor Álbum de Samba. Depois de lançar este trabalho com sucessos acumulados ao longo dos anos, em 2005 Beth Carvalho seguiu em turnê internacional, fechada com chave de ouro no Festival de Montreux, exatamente 18 anos após sua primeira apresentação na Suíça. A turnê mostrou sua força em números: mais de 10 mil pessoas assistiram ao show em Toulouse, na França, plateia lotada no Herbst Theatre, em São Francisco e lotação esgotada em Los Angeles. Em dezembro do mesmo ano, a cantora abriu o Theatro Municipal do Rio de Janeiro para celebrar o Dia Nacional do Samba e seus 40 anos de carreira. O show antológico, que reuniu grandes sambistas da atualidade, como Dona Ivone Lara, Monarco, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho, Quinteto em Branco e Preto, Dudu Nobre, entre outros, foi lançado em CD/DVD no fim de 2006, inaugurando seu próprio selo “Andança”. Em 2007, a cantora lançou também pelo selo Andança, o CD/DVD “Beth Carvalho canta o Samba da Bahia”, com um repertório de sambas de compositores baianos, de diferentes gerações. O DVD foi gravado pela Conspiração Filmes em agosto de 2006, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Entre os convidados , estavam Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum, Riachão, Danilo Caymmi, entre outros. O DVD traz ainda um histórico documentário sobre o samba de roda da Bahia. Em 2013 recebeu homenagem da escola de samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé com o enredo "Beth Carvalho, a madrinha do samba". No começo de 2014, Beth gravou um DVD no Parque Madureira, com antigos sucessos da época em que efervesceu o Bloco Cacique de Ramos e novos sucessos do CD "Nosso Samba Tá Na Rua", com participações especiais de Zeca Pagodinho e de sua sobrinha Lu Carvalho e ganhou uma exposição sobre sua vida e carreira no Imperator - Centro Cultural João Nogueira. Beth também foi convidada pelo empresário José Maurício Machline, diretor do Prêmio da Música Brasileira, para ser curadora da 25ª Edição do Prêmio, formando uma comissão de organização juntamente com Zélia Duncan e o pesquisador e historiador Sérgio Cabral, resultando numa belíssima premiação, com as músicas e artistas escolhidos por Beth e Sérgio Cabral e o texto de Zélia Duncan. Mesmo ainda se locomovendo de cadeira de rodas e aos poucos voltando a andar, Beth participou também da turnê do Prêmio, junto com Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Altay Veloso, Zélia Duncan e Mariene de Castro. Beth participou também da gravação do DVD da 25ª Edição do Prêmio da Música Brasileira junto com Dudu Nobre, Beatriz Rabello, Péricles, Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Mariene de Castro, Zélia Duncan e a cantora beninense Angélique Kidjo, com a a atriz Cris Vianna como mestre de cerimônia . Beth Carvalho faleceu em 30 de abril de 2019, aos 72 anos de idade. Estava internada desde o dia 8 de janeiro, no Hospital Pró-Cardíaco Rio. A causa foi uma infecção generalizada. O velório aconteceu no Salão Nobre da sede do Botafogo de Futebol e Regatas. A morte de Beth repercutiu no meio cultural, artístico e político. A Estação Primeira de Mangueira, em suas redes sociais lembrou de Beth como "um dos mais importantes nomes do samba e voz que cantava com alma as cores de nosso pavilhão" O Cacique de Ramos, lembrou da trajetória artística "firmando-se como madrinha de uma geração de sambistas, e também da nossa agremiação." Maria Bethânia, Nelson Sargento, Leandro Vieira, Diogo Nogueira, Moacyr Luz, Zeca Pagodinho, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elza Soares, Gal Costa, Péricles, Regina Casé, Daniela Mercury, Maria Rita, Luiz Antonio Simas, dentre outros, usaram as redes sociais para homenagear a cantora. No âmbito político, a trajetória e lutas de Beth foi lembrada pela ex-presidente Dilma Rousseff, "Beth Carvalho também deixa importante legado na identificação com as causas e lutas do povo. Me honrou com seu apoio nas campanhas" e pelo ex-presidente Lula O Governo do Estado do Rio, lamentou a morte destacando-a como uma das melhores e mais importantes cantoras do país. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, afirmou que "Beth eternizou alguns dos momentos mais belos da música brasileira".
ALMIR GUINETO (12/07/1946 – 05/05/2017)
Almir de Souza Serra sambista e compositor brasileiro um dos fundadores do Fundo de Quintal, o Guineto de seu apelido é uma derivação da palavra magnata, que evoluiu para magneto e, então, Guineto. Almir Guineto foi um dos maiores representantes do samba de raiz. Além disso, Almir inovou o samba ao introduzir o banjo adaptado com um braço de cavaquinho (o banjo-cavaquinho (ideia revolucionária dele e do antigo companheiro do grupo musical Originais do Samba, o comediante Mussum. O instrumento híbrido, foi afetivamente alcunhado de banjo-cavaquinho e adotado por vários grupos de samba até os dias de hoje. Destacou-se também pelo modo extremamente original de executar o instrumento, afinando-o à moda das últimas cordas do violão e palhetando-as velozmente, fazendo-as tremular conforme o suingue do repique de mão e do tantã. Nascido e criado no Morro do Salgueiro, na cidade do Rio de Janeiro, Almir Guineto teve contato direto com o samba desde a infância, já que havia vários músicos em sua família. Seu pai, Iraci de Souza Serra (Seu Ioiô), era violonista, um dos fundadores do GRES Acadêmicos do Salgueiro em 1953 e membro da ala de compositores da escola; e também integrava o grupo Fina Flor do Samba. Sua mãe, Nair de Souza (mais conhecida como "Dona Fia"), era costureira e componente dedicada da ala das baianas e uma das principais figuras da mesma agremiação que o marido - Acadêmicos do Salgueiro; seus irmãos: Francisco de Souza Serra (ou Chiquinho) foi um dos fundadores dos Originais do Samba e Lourival de Souza Serra, mais conhecido como Louro, ou Mestre Louro, foi o lendário mestre de bateria e que mais tempo esteve à frente da "Furiosa", animada bateria da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Na década de 1970, Almir já era mestre de bateria e um dos diretores da Salgueiro e fazia parte do grupo de compositores que frequentavam o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos. No início dos anos oitenta, ele ajudou a fundar o grupo Fundo de Quintal junto com os sambistas Bira, Jorge Aragão, Neoci, Sereno, Sombrinha e Ubirany. Mas ele deixou o grupo logo após a gravação de Samba É no Fundo de Quintal - primeiro LP do conjunto - e seguiu para carreira solo. Almir conquistou fama com a premiação no Festival MPB-Shell, da Rede Globo, em 1981, em que interpretou o samba-partido "Mordomia" (de Ari do Cavaco e Gracinha). Sua notoriedade como compositor e intérprete aumentaria ao longo daquela década. Beth Carvalho gravou "É, Pois, É" (parceria com Luverci Ernesto e Luís Carlos) em 1981, "À Luta, Vai-Vai!" (com Luverci Ernesto) e "Não Quero Saber Mais Dela" (com Sombrinha) em 1984, "Da Melhor Qualidade" (com Arlindo Cruz), "Pedi ao Céu" (com Luverci Ernesto) e "Corda no Pescoço" (com Adalto Magalha) em 1987. Alcione gravou "Ave Coração" (parceria com Luverci Ernesto) em 1981 e "Almas & Corações" (com Luverci Ernesto) em 1983. Jovelina Pérola Negra gravou "Trama" (parceria com Adalto Magalha) em 1987. Em 1986, a gravadora RGE lançou o LP Almir Guineto, que teve grande sucesso comercial. Nesse disco, Almir Guineto gravou algumas de suas parcerias com Adalto Magalha, Beto Sem Braço, Guará da Empresa, Luverci Ernesto e Zeca Pagodinho. Entre os grandes destaques, estão "Caxambu", "Mel na Boca", "Lama nas Ruas" e "Conselho". Ainda naquela década, a RGE lançou os LPs Perfume de Champanhe (1987) - que teve repercussão com "Batendo na Palma da Mão" (parceria com Guará da Empresa) - e "Jeito de Amar" (1989). Em 1991, a gravadora lançou o disco De Bem com a Vida. Em 1997, "Coisinha do Pai" um samba composto por Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos, que fez sucesso na voz de Beth Carvalho, foi programado pela engenheira brasileira da Nasa Jacqueline Lyra para acionar um robô norte-americano da missão Mars Pathfinder, em Marte. No ano seguinte, compôs com Arlindo Cruz, Sombrinha e Xerife "Samba de Marte", que relata a história da chegada de "Coisinha do Pai" em solo marciano. Em julho de 2007, Almir Guineto comemorou seu aniversário em um show, com diversos convidados, no Espaço Santa Clara, na cidade de São Paulo. Em 2009, fez parceria com o rapper Mano Brown, dos Racionais MC's, na música Mãos. “A música "Coisinha do Pai" é um grande sucesso. É eterna. Foi até parar em Marte. É uma coisa impressionante. Essa música é um fenômeno. "Coisinha do Pai" eu fiz questão de regravar porque além de ter essa força, ela foi simbolicamente é a música das crianças que estavam nascendo naquela época que eu gravei. Eu ouvia muitos pais dizerem: "Eu acordo minha filha com essa música" ou então "minha filha e meu filhinho gostam dessa música". Tem uma relação com criança muito forte, e que agora então vão ser os netos e os bisnetos” Beth Carvalho.
JAMELÃO (12/05/1913 - 14/06/2009)
José Clementino Bispo dos Santos, conhecido como Jamelão, foi um sambista da Estação Primeira de Mangueira. Muitos o reconhecem como o maior intérprete de sambas enredo da história do carnaval brasileiro. Nasceu no bairro da Corcundinha e passou a maior parte da juventude no Engenho Novo, para onde se mudou com seus pais. Lá, começou a trabalhar, para ajudar no sustento da família - seu pai havia se separado de sua mãe. Levado por um amigo músico, conheceu a Estação Primeira de Mangueira e se apaixonou pela escola de samba. Ganhou o apelido de Jamelão na época em que se apresentava em gafieiras da capital fluminense. Começou ainda jovem, tocando tamborim na bateria da Mangueira e depois se tornou um dos principais intérpretes da escola. Passou para o cavaquinho e depois conseguiu trabalhos no rádio e em boates. Foi "corista" do cantor Francisco Alves e, numa noite, assumiu o lugar dele para cantar uma música de Herivelto Martins. A consagração veio como cantor de samba. Sua primeira gravadora foi a Odeon. Depois, trabalhou para a Companhia Brasileira de Discos, Philips e mais tarde para a Continental, onde gravou a maioria de seus álbuns, para a RGE e depois para a Som Livre. Entre seus sucessos, estão "Fechei a Porta" (Sebastião Motta/ Ferreira dos Santos), "Leviana" (Zé Kéti), "Folha Morta" (Ary Barroso), "Não Põe a Mão" (P.S. Mutt/ A. Canegal/ B. Moreira), "Matriz ou Filial" (Lúcio Cardim), "Exaltação à Mangueira" (Enéas Brites/ Aluisio da Costa), "Eu Agora Sou Feliz" (com Mestre Gato), "O Samba É Bom Assim" (Norival Reis/ Helio Nascimento) e "Quem Samba Fica" (com Tião Motorista). De 1949 até 2006, Jamelão foi intérprete de samba-enredo na Mangueira, sendo voz principal a partir de 1952, quando sucedeu Xangô da Mangueira Em janeiro de 2001, recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
JOÃOZINHO TRINTA (23/11/1933 – 17/12/2011)
João Clemente Jorge Trinta, popularmente conhecido como Joãozinho Trinta foi um artista plástico e famoso carnavalesco brasileiro. Até os 10 anos de idade viveu em São Luís do Maranhão, onde trabalhou como dançarino. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1957, para estudar dança clássica no Teatro Municipal. Durante 30 anos, fez parte do Corpo de Baile do Teatro Municipal e apresentou duas óperas - O Guarani, de Carlos Gomes; e Aida, de Giuseppe Verdi. Começou sua carreira carnavalesca no Salgueiro, em 1961, como segurança, dois anos depois, a escola foi campeã do carnaval, com o enredo Xica da Silva de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Sempre como segurança, viu sua escola ser campeã também nos anos de 1965, 1969 e 1971. Após a saída dos carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, foi promovido a carnavalesco da escola onde fez carreira solo com a artista plástica Maria Augusta no carnaval de 1973, com o enredo Eneida: Amor e Fantasia. Já como carnavalesco-solo ganhou o bicampeonato em 1974 com "O Rei de França na Ilha da Assombração" e em 1975 com "O Segredo das minas do Rei Salomão". Após divergências com a diretoria salgueirense, transferiu-se para a escola de samba Beija-Flor, onde criou enredos ousados e luxuosos que deram à agremiação de Nilópolis os títulos de 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983, além de vários vice-campeonatos, entre eles os de 1986 com O mundo é uma bola e o de 1989 com Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia gerando controvérsias com a Igreja Católica ao tentar levar ao desfile uma imagem do Cristo Redentor caracterizado como mendigo. A imagem foi censurada e passou pela Avenida Marquês de Sapucaí coberta.Uma das marcas do carnavalesco era o luxo e a riqueza na avenida. Criticado por ter essa postura, é dele a célebre frase:
O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual!
Pelas escolas por que passou colecionou dezenas de vitórias sendo treze campeonatos. Também foi campeão no Grupo de Acesso com as escolas Império da Tijuca e Acadêmicos da Rocinha, além de ter feito carnavais para escolas de São Paulo. No ano de 1984 foi responsável pelos figurinos da E.S. Turunas do Riachuelo, de Juiz de Fora-MG, que completava 50 anos de fundação, ficando em 3º lugar no carnaval da cidade. . Em 1993, depois de permanecer 17 anos na Beija-Flor, Joãozinho Trinta transfere-se para a escola de samba Unidos do Viradouro. Em 1996, sofre uma isquemia, que paralisa um dos lados de seu corpo. .Mesmo assim, continuou seu trabalho na escola, que foi campeã em 1997, com o impactante enredo Trevas! Luz! A explosão do Universo. Teve passagem marcante na escola de samba Grande Rio, que obteve o 3ºlugar em 2003 - uma classificação inédita na história da escola. Em novembro de 2004, Joãozinho sofre um derrame e, no ano seguinte, decide afastar-se da Sapucaí, passando a atuar apenas como consultor durante os preparativos para o Carnaval.
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 05/11/2020
Alterado em 03/12/2020