OS DONOS DA RUA
OS DONOS DA RUA
Como alguns já sabem eu fui criado no Ó da periferia de São Paulo,mais precisamente na Freguesia do Ó há mais de meio século vocês podem imaginar como era.
Naquela época não havia comunidades, nome chique com que batizaram as favelas, as poucas moradias deste tipo eram chamadas de maloca, termo eternizado popularmente por Adoniran Barbosa.
Posteriormente surgiu a então maior favela de São Paulo, a Favela do Vergueiro local onde hoje é o Bairro Chácara Klabim que se caracteriza por ter apartamentos de maiores preços por m².
Naquele tempo a rua era nossa como posteriormente o céu seria do avião segundo Caetano Veloso, e era ali na rua que tudo acontecia.
A rua era o aparelho celular da minha época de infância, nela a gente se divertia, fazia exercícios, conhecia pessoas, brincava,e xingava palavrões que ninguém falava dentro de casa, jogava bola, jogava taco, brincava de pique esconde, passa anel, amarelinha,boca de forno, pulava corda.
Não tinha preconceito brincavam o gordo que era ruim de bola mas era o dono dela, e geralmente era colocado no gol, tinha o magricela, o neguinho, o alemão, o baixinho,(eu) mas a gente nem sabia que uns eram mais escuros, outros mais claros ou mais pobres, éramos apenas amigos.
Íamos para a escola para adquirir conhecimento, educação a gente aprendia em casa aprendendo a respeitar pai e mãe, as professoras, os mais velhos, e todos sabiam que obediência fazia um bem danado para a conservação da arcada dentária.
A educação que vinha do berço não nos impedia de livremente chamar o gordinho de Bolão, outro amigo de Bola 7, zarolho, alemão batata.
Na época tá certo que futebol era coisa pra homem, mas havia muitas outras brincadeiras em que meninos e meninas se divertiam juntos.
No meu tempo de infância, quase não havia automóveis e fatalmente nós as crianças, éramos os donos da rua.
AC De Paula
#poetaacdepaula
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 08/03/2019