EXPECTATIVA
A folha de papel em branco olhou desconfiada, desafiadora, e desafolhadamente, para a pena da caneta na mão do poeta. Ela sabia como tudo começava, no entanto o resultado final era um eterno dilema.

Tudo poderia terminar bem, e ela iria fazer companhia à outras tantas folhas devidamente arquivadas, com grande possibilidade de que seu conteúdo viesse a fazer parte de um novo livro, ou seu destino seria mesmo o cesto de lixo!

Ela não culpava a caneta pois afinal tinha plena consciência de que ela, a pena, era tão somente um instrumento sem vontade própria que dependia única e exclusivamente do poeta para dar um rumo a sua sina,(a da folha de papel em branco)!

A caneta por sua vez, também tinha uma pulga atrás da orelha, afinal ela sabia que tinha um certo privilégio, já que no mundo atual poucas pessoas se davam ao luxo de usar uma caneta tinteiro.

A concorrência das descartáveis esferográficas chegava a ser desleal, sem dizer ainda, que na verdade a maioria das pessoas achava melhor digitar qualquer texto, em um mundo em que a máquina de escrever havia virado um teclado sem monitor!

A caneta também não ficava nem um pouco contente quando o escrito que rabiscava na folha de papel em branco acabava indo para o lixo. Ambas torciam e clamavam para que a inspiração invadisse os sentimentos do poeta, e se transformasse em poemas e canções!

E assim viviam, o papel, a caneta, e o poeta!
Sempre na expectativa!

AC De Paula
#poetaacdepaula