HISTÓRIAS DE CORRETOR
(OS VASOS DE SAMAMBÁIA)
Não foram poucas as vezes que tive de desembolsar algum valor para não perder uma venda, já paguei lustre, telefone conta de água atrasada, etc. etc. etc.! Às vezes é necessário fazer um sacrifício, e sempre parti do princípio de que é melhor meio prato de salada, do que um prato inteiro de capim! Ou como queiram alguns: É melhor um pássaro na mão do que mil em revoada!
Eu estava já há alguns meses tentando vender um sítio para um cliente, senhor Antonio, um português duro na queda, cheio de dinheiro, exigente e um tanto arrogante. Já havia lhe mostrado diversos imóveis, mas nenhum era de seu agrado. Consegui achar um sítio em Itú, que se enquadrava nas suas exigências. O proprietário era o senhor Pimentel, um fiscal da Fazenda, gente fina, muito educado, não me lembro ao certo quantas vezes fomos até ao sítio, mas foram muitas. O mercado estava parado, e o meu cliente queria fazer um excelente negócio, por isso suas propostas, eram muito além de indecorosas.
O proprietário queria vender realmente, mas não dava para aceitar o preço e o prazo que o comprador praticamente queria impor, inúmeras foram as reuniões, e o comprador sempre me dizendo:
_ Pode deixar que ele vai chegar no meu preço, é questão de tempo, ele precisa do dinheiro!
E vai proposta, vem contraproposta e não se chegava nunca a lugar nenhum, nem comprador nem vendedor chegavam a um acordo satisfatório.
Uma noite, saímos do escritório as onze e meia, era uma Sexta feira e por milagre havíamos quase chegado a um denominador comum. Marcamos para, no dia seguinte pela manhã visitar novamente o sítio. As seis horas da manhã do Sábado eu já estava na casa do comprador e fomos para Itú. A venda era de porteira fechada, mas eu já havia avisado ao comprador, que a mesa de bilhar, o jogo de estofado, e meia dúzia de vasos de samambaia, eram coisas e objetos que não ficariam.
O comprador como sempre, querendo se prevalecer do poder econômico empacou feito uma mula, chegou para mim, longe do vendedor e disse:.
- Eu fico com o sítio, mas daqui não sai nada!
Com muita paciência tentei contornar a situação:
- Mas seu Antonio, estes objetos não representam quase nada em relação ao valor do imóvel, para o senhor Pimentel o valor é mais sentimental, estimativo.
Com o português não haviam argumentos satisfatórios, e tentei então resolver o problema com o vendedor. Resolvi o problema da mesa de bilhar e do conjunto estofado, eu descontaria da comissão o valor daqueles objetos, no entanto o maior impasse eram as samambaias pois delas, a esposa do vendedor não abriria mão!
- Seu Antonio, já está resolvido o problema, agora quanto as samambaias, a gente passa no CEASA e eu lhe compro uma dúzia delas.
- Senhor Antonio Carlos eu já lhe disse, eu fico com o sítio mas daqui não sai nada!
A conversa com as partes eram totalmente isoladas, o comprador passeando pelo sítio, e o vendedor dentro da casa, e eu feito moleque de recado de um lado para o outro!
- Antonio Carlos, eu respeito muito o seu trabalho, mas este português já tá me enchendo o saco porra! Daqui a pouco ele vai querer as calcinhas da minha mulher que estão penduradas no varal!
- Calma seu Pimentel, tenha um pouco mais de paciência, a gente vai solucionar isso!
Eu já não tinha mais o que argumentar e também já estava cansado daquela lenga - lenga, por fim, o português endureceu o jogo mais uma vez.
- Vamos deixar isso para Quarta ou Quinta feira, até lá a gente resolve, tenho certeza de que ele vai concordar! Ninguém tem dinheiro para comprar nada nesta crise!
Outro final de semana perdido e mais uma semana de ansiedade me aguardavam. Na Terça feira o vendedor passou no escritório e me pediu os documentos, pois precisava mostrar para um outro cliente que estava interessado no sítio. Na Quinta feira o português pediu para que eu marcasse uma reunião com o vendedor.
Quando liguei para o senhor Pimentel a surpresa não me foi agradável, ele havia assinado o contrato de venda na noite anterior, agradeceu o meu esforço, teceu vários elogios, e disse que quando precisasse de alguma coisa me procuraria. Eu nunca mais o vi!
Pedi a recepcionista que ligasse para o senhor Antonio e avisasse para que ele viesse ao escritório, não queria dar a notícia por telefone, afinal ele merecia ouvir tudo ao vivo.
- Seu Antonio Carlos posso ver o contrato, o senhor já preparou a minuta?
Não posso dizer que foi sem prazer que lhe dei a notícia, afinal eu havia feito de tudo para que ele fizesse um bom negócio, no entanto a sua teimosia havia prevalecido. Pensei que o homem fosse ter um infarto ali na minha frente, parecia que todo o sangue do seu corpo havia subido para o rosto e jamais esquecerei a imagem daquele rosto roxo, parecendo querer explodir!
Não se pode vencer sempre, mesmo que se faça tudo como manda o figurino, há fatos e atitudes que nos fogem ao controle! Mais uma lição aprendida por um corretor,na maravilhosa e surpreendente escola da vida.
A POESIA EM NOVA DIMENSÃO
PROJETO DIGITAL VIDEO BOOK
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 03/03/2007
Alterado em 03/03/2007