HISTÓRIAS DE CORRETOR
(O PRESENTE)
O nosso dia a dia é realmente bem diferenciado, não existe um dia igual ao outro, cada tratativa tem características próprias, até pelo fato de que as pessoas não são iguais. Eu estava tratando uma proposta em um sobradinho na Avenida Miguel Stéfano, no bairro da Saúde, o comprador, senhor Wagner, era uma pessoa muito educada, bem articulada e esbanjava simpatia.
Estávamos com o valor praticamente fechado, faltava pouca coisa, o que estava atrapalhando era o fato de que o senhor Wagner queria colocar um Vectra como parte de pagamento, ele queria o valor de tabela R$23.000,00, no entanto, a realidade do mercado apontava para um valor de R$ 19.000,00, era o que os lojistas estavam pagando. Os vendedores não iriam ficar com o carro, queriam era fazer dinheiro de imediato, e faltavam ainda R$5.000,00 do preço pelo qual eles fechariam a negociação, resumindo, a diferença na realidade era de R$9.000,00.
Conversando novamente com o comprador, ponderei a situação quanto ao valor do carro e consegui uma nova proposta no mesmo valor, mas, sem o veículo, ele pagaria tudo em dinheiro, inclusive o valor referente ao carro seria pago no ato do sinal e princípio de pagamento.Os proprietários eram um pouco duros na queda, assim, fui tratar com eles colocando o carro pelo valor de R$ 20.000,00, mesmo sabendo que o que eles preferiam, como diz o ditado, era a parte deles em dinheiro. Quando percebi que era o momento certo,soltei a bomba:
- Olha vamos fazer o seguinte, não sei se eu consigo mas toda tentativa é válida, vamos fechar sem o carro, talvez eu consiga, mas no preço tenho certeza de que o limite dele é este, não vai dar para chegar mais R$5.000,00.
Na verdade eu disse que tentaria o que na realidade eu já havia conseguido do senhor Wagner.
- Vamos transferir para ele o problema de vender o carro, ele que venda pelo valor que quiser, o importante é que ele pague esta diferença em até trinta dias !
Preenchi a contra proposta nas condições sugeridas e colhi a assinatura do casa, argumentando ainda, que se o comprador concordasse eu já iria preparar o contrato, sai de lá com os documentos do imóvel.
Liguei para o senhor Wagner e disse que o negócio estava fechado, peguei os dados que faltavam para fazer o contrato e marquei o horário para a assinatura, ele queria assinar naquele mesmo dia. O comprador chegou pontualmente no horário marcado, os vendedores não poderiam estar no escritório no horário estipulado pois eram dono de uma mercearia, não poderiam fechar o estabelecimento para ir até ao escritório, assim eu iria colher a assinatura do comprador, pegar os cheques do sinal e acertaria a situação com os vendedores.
O senhor Wagner então começou a ler o contrato, de repente ele parou de ler e me disse bruscamente:
- Eu não concordo com esta condição da entrega do imóvel na escritura, eu quero a posse agora, na assinatura do compromisso de venda e compra ou não tem negócio!
Foi então que ele começou a me explicar o motivo.
- Antonio Carlos, meus pais moram há muito tempo nesta região, nós somos aqui do bairro e a minha mãe sempre foi apaixonada por este sobradinho, desde quando ele foi construído. Na verdade eu estou comprando é para eles que vão completar bodas de ouro neste final de semana. Nós já preparamos uma festa e o meu presente para eles vai ser uma caixa de cartão de visitas com o novo endereço, e as chaves do imóvel, e arrematou enfaticamente:
- Se eu não puder fazer esta graça, o imóvel não me interessa mais! !
Fiz então, o que qualquer gerente de vendas teria feito naquela situação. Garanti a ele que não se preocupasse pois eu iria conseguir a liberação das chaves. Retifiquei a cláusula em que constava a transmissão da posse, especifiquei os cheques do sinal e e ele assinou o contrato.
Eu tinha nas mãos um bom trunfo, o comprador estava pagando metade do valor total do imóvel no ato do sinal, e mais, eu havia antecipado para pagamento junto com o sinal a parcela referente ao valor do carro, que na contra proposta assinada pelos vendedores, era para trinta dias. Assim não encontrei muita resistência por parte dos proprietários, em concordar com a transmissão precária da posse ao comprador.
Em todos os meus anos de profissão, esta venda foi uma das que mais me marcou pelo motivo de que, pais darem imóvel de presente para filho eu já havia visto muitas vezes, no entanto era a primeira vez que eu via um filho comprar imóvel para presentear os pais.
O detalhe da entrega do cartão de visita era muito original e inesquecível, pena não poder presenciar a emoção, que com certeza os presenteados devem ter sentido.
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 02/03/2007
Alterado em 02/03/2007