AC DE PAULA
Dom Quixote Tupiniquim
Textos
CARNAVÁLIA DO LIRISMO COMUM capítulo 3
                A noite era clara e a lua cheia tão redonda parecia mais o balão de gás que a menininha ganhara toda entusiasmada. As estrelas estavam cintilantes como dois brilhantes cravejados em um anel escoltando uma safira azul, Uirapuru estava tão contente como o gatinho sem pedigree que havia devorado o peixinho banhado à ouro, que nadava infeliz no escasso espaço do seu límpido aquário.
                
               Graças ao tráfico de influência de um grande amigo do planalto Uirapuru conseguira um carregamento extra de poeira cósmica, portanto poderiam viajar numa boa!
               
                Estava tudo preparado, lá em cima no infinito, as estrelas apertadinhas em índigos blues jeans, piscavam sensuais para os cavaleiros da guarda de honra da corte do astro rei!
               
                - Dez...Nove...Oito...Sete..., iniciou-se a contagem regressiva para mais um lançamento na plataforma das necessárias ilusões, e cada vez mais se aproximava a hora exata, fatal!
                - Seis...Cinco...Quatro..., só o que restava era a esperança de ainda poder esperar!
               
                - Três...Dois...Um... Fire...,(o eterno condicionamento), e foi-se a nave prateourada deixando atrás de si um rastro vermelhicrômico que um poeta desavisado chamaria de...saudade!
               
                Berimbau já se via saboreando o tão sonhado parmesão, regado à uísque com garoa enquanto jogava uma partida de xadrez com o dragão de São Jorge, que por sinal, era primo-irmão do dragão da inflação, e que havia desistido de derrubar Ogum do cavalo desde que entrara para a torcida da Gaviões, quando de repente (sempre pinta um de repente), a nave começou a ratear.
               
                Pararam numa zona azul e foram multados antes de conseguir uma folha de estacionamento pois não havia, acreditem, nenhum cambista ou flanelinha por perto, e a moça da zona, muito de mau humor por não haver faturado nada a noite toda, os mandou pentear macacos!
               
                Resolveram seguir a pé e pelo caminho cruzaram com finíssimas damas vestidas de pau-brasil, que levavam nos olhos o brilho da lua pra juventude colorir a nanquim e agitar no baile de gala da aldeia do rock tupiniquim.
               
                De repente (de novo), deram de cara com Tarzan, que não estava pelado com a mão no bolso, e muito na dele passeava pelo viaduto do absoluto real, sob a lança dos olhares emboscados no trançado de liames que sustentavam os andaimes dos vulgares preconceitos.
               
                Seu pensamento estava muito longe, pensava na Jane, na Chita e chegava a ouvir os tambores rufando na selva, (na verdade eram os atabaques do terreiro do Pai 171 de Cambinda). 

               Ele estava um tanto quanto confuso e não sabia se a arte imitava a vida ou se vice-versa, a vida era a arte contida na imitação submersa?
               
                Era apenas mais uma dúvida entre tantas do universo e ele achava que somos todos pródigos em estabelecer parâmetros, limitados pelos códigos dessa ordem mundial! Na fronteira para o nada, ele achava que esse tudo era muito mais profundo, pois que nos dentes da tal engrenagem, somos meramente súditos de um reino de outro mundo, temporariamente prisioneiros da nossa própria embalagem.
               
                Ele queria ir embora mas, para onde? Na verdade nem ele mesmo sabia, (e nem eu sei), não tinha nem pra passagem e nem era amigo do rei! Pensou em ir de carona com o poeta que descobriu o caminho, ou cavalgando na garupa de um alazão dourado, empoeirando as estrelas e o luar cristalino pendurado lá no azul.
               
                Jad-guru achava que a falsidade dos tar-man-gânis, era mais perigosa que as mandíbulas de gimla, e do alto do viaduto, pra fazer jus ao cachê que havia cobrado da CNBB na campanha contra a violência, gritou em alto e bom som pra quem quisesse ouvir:

                -Sem essa de bandolo, essa vida é um carnaval!
Uirapuru indagou curioso porque ele deixara a paz da selva natural, pra enfrentar os perigos e desafios da selva de pedra metropolitana onde não se via nem um jatobá de plástico?

               - Eu estou aqui pra entregar um memorial à diretoria da SISCA solicitando providencias urgentes quanto a determinadas reivindicações da maioria dos associados.

               - SISCA? Memorial? Que papo é esse Tarzan?

               - Pô vocês são xaropes mesmos, acreditam em Big Brother e não sacam nada mesmo! SISCA é a Sociedade Internacional dos Super-heróis Congêneres e Assemelhados.

               - Ah! Legal! E vocês estão reclamando de que?

               - De uma série de coisas absurdas e arbitrárias, ou você pensa que nós somos iguais ao seu povinho que engole sapo a seco e ainda bate palmas pra maluco dançar? No meu caso, por exemplo, o Edgar me jogou lá numa selva que tem mais ciriolo do que baile funk na baixada.

               - Qualé, só porque eu sou filho da macaca?

               - O Mandrake também tá louco da vida, qualquer pagodeiro desses que cantam com a bunda, desfilam por ai sempre cercados de loiras, ou mulatas tipo exportação enquanto ele tem que aturar aquela maguilão do Lotar o tempo todo no pé dele. E cá entre nós, o Mandrake com aquela cara de malandro vaselina, já está dando até o que falar!

               - O Fantasma disse que não vai mais ao tal baile de máscaras, e que já tá cansado de carregar aquela capa de Dick Trace que mais parece uma sauna ambulante. Vai tirar o tesouro da aplicação financeira, comprar uma cobertura triplex de frente pro mar, um diploma de cão policial pro Capeto, e os pigmeus que se danem, pois ele vai é cair na gandaia e não tá nem aí!

               - O Pato Donald tá cansado de bancar o pato, não suporta aquela voz de taquara rachada, fanhosa e esquisita, e não quer mais ficar levando ferro do patrão (ainda mais sendo parente)e vive desconfiado que ta levando chifre da Margarida.

               - O Zorro então, anda cada vez mais tonto e louco da vida, pois o Silver não atende quando ele assobia, vive com os fones no ouvido sempre ligado numa FM, e de uns tempos pra cá exige ser chamado de Silver Stalone!
Uirapuru muito curioso quis saber sobre o Super Pateta.

               - Coitado dele Uira, não agüenta mais comer o tal do super amendoim e já está convencido, que quem nasceu pra Morcego Vermelho nunca chega a Batman! 

               - O Capitão Marvel anda meio puto pois o Shazan ta pior do que agiota e não para de aumentar a taxa do royalt da palavra mágica, O Cebolinha não agüenta mais levar coelhada da Mônica!
Berimbau que estava na dele feito papagaio de pirata, prestando atenção em tudo perguntou ao filho da macaca:

               -Afinal Tarzan, qual é a dessa SISCA?

               -Bem, ela foi criada há uns trinta anos mais ou menos com a finalidade de arrecadar e distribuir aos associados os direitos autorais sobre riso, pranto, gargalhada,suspense, emoções,horror, medo e demais estados emotivos proporcionados aos felizes (Ah! Ah!) consumidores do in-natura e dos enlatados em geral.

               -Mas tá precisando haver uma renovação no panorama da diretoria. Se bem que o setor de arrecadação sempre funcionou à contento, parece que tem uns cara lá que já trabalharam no governo. Quando o presidente da entidade era o Mancha Negra, o setor ficava a cargo dos Irmãos Metralha, no tempo do Alibabá, ao arrecadadores eram os Ladrões de Bagdá, também altamente especializados no assunto.

               - Agora o que nunca funcionou direito é o setor de distribuição que faz o rateio daquela merreca que sobra para os associados. Vivem pondo a culpa no tal do computaodr!

               - Pra terminar o presidente recém eleito é o Tio Patinhas, precisa dizer mais?

               Uirapuru ia perguntar sobre as transas pacifistas nas aldeias sobre a proteção de Tarzan, quando ele sem mais nem menos, saiu de pinote pelas esquinas do espaço, deixando no ar uma poeira enluarada.

 
 antonio carlos de paula
poeta e compositor
www.antoniocarlosdepaula.com


 
 
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 15/01/2010
Alterado em 15/01/2010
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